Por Renan Nazzos
Você pode acusar Letuce de tudo, menos de ser óbvio. Sobretudo depois do último lançamento do duo carioca formado pelo casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos -, Manja Perene. Até mesmo se você quiser acusar Lucas de não ser um grande cantor ou apontar algum vacilo no canto de Letícia Não tenho ouvido pra afinação, eu estudei teatro, ela mesma avisa nos versos de Sempre Tive Perna-, não estará sendo injusto. Mas a despeito de qualquer eventual equívoco, Manja Perene é um disco que se pode bendizer no cenário musical brasileiro atual.
A espontaneidade parece ter sido palavra de ordem na feitura do disco, produzido por Lucas e Bernardo Pauleira. Letícia e seu canto despojado são, em grande parte, os responsáveis por transmitir este clima espontâneo e cativar o ouvinte. O desejo do casal de escancarar sua paixão, ironia, humor e tesão, tais como são, é confirmado na aposta em repertório essencialmente autoral. Embora Lucas e Letícia não sejam compositores dos mais inspirados, acertaram ao optar por suas próprias canções, ora envoltas de alguma suavidade e romantismo Cataploft e Chess Trip -, ora com carga erótica Fio Solto -, para recriar no disco seu universo tão peculiar. Das 13 faixas, apenas a última, Ninguém Muda Ninguém (André Dahmer), não foi feita pela dupla.
E por falar em composição, Lucas e Letícia abusam de vocabulário inusitado em suas letras. Se o próprio título do disco já não é construído com palavras das mais usuais, é possível que você também estranhe ao ouvir e ouvir de novo, pra ter certeza palavras como maracutaia, mequetrefe, bacurinha e traulitada, para citar alguns poucos exemplos. As melodias não são tão sedutoras, mas há bons achados melódicos, caso de Pra Passear e Areia Fina. Os arranjos são bons e dão às músicas contornos de indie-rock, indie-pop e mpb e até disfarçam os momentos menos inspirados.
No todo, Manja Perene oscila entre grandes acertos e algumas músicas com desenvolvimento menos interessante, mas nada que tire o charme e o mérito do trabalho. Letuce faz um bom álbum e evolui em relação ao primeiro, Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim, lançado em 2009 e que projetou a dupla na cena independente carioca. Com Manja Perene, vale a pena manjar Letuce!