Por Tiago Meneses
Desde que começou a mostrar o seu talento ainda com 14 anos ao viajar pra Nova York com a intenção de participar de um concurso musical promovido por uma rádio local, a inglesa da pequena cidade de Dover, Joss Stone, vem a cada dia provando que o tiro dado por aqueles que estavam dispostos a apostar no seu talento, não sairia de maneira nenhuma pela culatra, muito pelo contrário, seria certo que a garota loira e de aparência frágil, em pouco tempo poderia ganhar o status da mais nova diva da R&B por conta de sua voz arrojada, uma espécie de branca de voz negra. Após 8 anos desde o seu disco de estréia, The Soul Sessions, a cantora agora divide seu tempo entre o super grupo SuperHeavy, que alem de Stone, conta com a presença de nomes de peso como Mick Jagger, A.R.Rahman, Dave Stewart entre outros, com a sua carreira solo, tendo lançado no dia 21 de Julho de 2011, seu mais novo trabalho, intitulado LP1, que contou inclusive com um dos parceiros de SuperHeavy na produção. Dave Stewart, que também é o co-fundador da banda Eurythmics, ficou encarregado da produção do álbum, o que, diga-se de passagem, fez muito bem, pois é o mais bem produzido trabalho da cantora.
Antes de ouvir esse trabalho pela primeira vez, li de alguns críticos que a cantora em LP1 solidificou o pensamento de muitas pessoas que, embora a cada novo trabalho, a cantora ainda mostre ótimas interpretações das músicas através de uma bela voz, Joss Stone tem perdido uma das suas maiores características, ou seja, o groove, sem contar outros comentários extremamente pejorativos. Bom, não consigo enxergar essa decadência, ainda que LP1 não soe como um novo Mind, Body & Soul, o mesmo possui sim qualidade em vários momentos. Só mais um detalhe, o álbum encontra-se em algumas versões com duas faixas bônus, mas a resenha será feita baseada no álbum simples, de 10 faixas.
Bom, sobre o que se pode encontrar no álbum, trata-se novamente de mais uma espécie de renovação musical da cantora, com um espírito rock n roll um pouco mais aflorado provavelmente por conta de recentes trabalhos ao lado de rockstars como Jeff Beck e Mick Jagger, mas sem perder muita da própria identidade Soul. Baseada nessa mais nova renovação musical, o álbum tem início com uma faixa de nome bem sugestivo, a bela faixa Newborn começa com apenas violão e voz muito bem executado até que o refrão é cantado pela primeira vez e os outros instrumentos agora também acompanham o vocal de Joss Stone dando mais corpo à canção, assim segue até o seu final, bonito arranjo sob uma bela interpretação da cantora. A segunda faixa, Karma, também é bastante interessante, com um começo onde os seus 10 primeiros segundos me fez lembrar da introdução da música Circle of Fire da Steve Miller Band, mas as semelhanças param por aí, Karma é uma faixa de levada bastante calcada no rock n roll e, que em alguns momentos nos remete salvo as devidas proporções, a um vocal à la Janis Joplin devido a potencia usada por Joss em certas passagens da faixa.
Em Dont Start to Lie To Me Now a cantora segue uma linha mais ao estilo blues primitivo, uma levada de piano que lembra bastante a executada por muitos artistas dos anos 50, novamente com um vocal muito forte, Joss tenta sempre encarnar as personagens de suas canções, isso é uma característica louvável em qualquer cantor. A quarta faixa, Last One To You é um dos melhores momentos do álbum, provavelmente por contar com uma das principais características que fizeram com que a cantora ganhasse uma grande notoriedade no meio musical, um vocal variando em partes mais serenas e outras um tanto mais agressivas ainda que por cima de uma melodia continuamente tranquila.
Seguindo praticamente pelo mesmo caminho, Drive All Night também figura facilmente como uma das minhas faixas favoritas pelo mesmo motivo que citei na música anterior. Com um teclado vintage fazendo uma cama melódica sob umas simples notas de guitarra, encaixes de percussão e um vocal perfeitamente colocado de Stone, o clima criado na música não poderia ser melhor. Agora com Cry Myself to Sleep, a faixa é praticamente toda acústica onde apenas na sua parte final acontece uma incorporação dos outros instrumentos e a entrada de um coro de fundo que acompanha a cantora até o término da música.
Somehow é uma canção extremamente divertida, de uma levada maravilhosa e, um refrão que facilmente gruda na cabeça, sem me esquecer de também mencionar que aqui é uma das provas de que o seu groove, muito mais do que vivo nas veias da cantora, ainda está bastante ativo. Na próxima faixa, Landlord, a parte instrumental se limita em um trabalho acústico e deixa claro que a canção é quase que inteiramente voltada ao desempenho vocal de Stone, esse mais uma vez feito com muita destreza.
O penúltimo ato de LP1 é BoatYard, começa de forma bastante melancólica até a melodia ganhar mais força com direito a no meio da canção a entrada de um solo de guitarra com reminiscência de uma balada rock n roll de arena na linha de algo como King of Leon, uma boa faixa. Por fim, Take Good Care usa a mesma fórmula de Landlord, ou seja, uma cama melódica acústica pra que a voz de Joss deite de forma relaxada a soar de maneira bem serena.
Ainda que não seja nenhuma obra prima, LP1 é um disco bastante honesto e de certa forma coeso, tanto em relação à qualidade de suas canções quanto em relação à discografia da cantora, que a cada novo álbum busca uma renovação musical. LP1 é mais um interessante capítulo da história de uma das mais talentosas cantoras da R&B a surgir nos últimos tempos.