Por Queison Souza Alves
Com canções de formatura, novo disco tem conceito bem definido, mas não vai além disso.
O The Fratellis surgiu nos anos 2000, pegando um embalo generoso no estrondoso sucesso de Strokes, Arctic Monkeys, Kings Of Leon, The Killers e incontáveis bandas da época de ouro do indie rock. Mas, tudo passa e, assim como as bandas citadas acima conseguem, ainda hoje, apresentar discos relevantes, a grande parte foi esquecida no churrasco e sobrevivem de hits antigos (e atemporais), com presença tímida em festivais tocando no início da tarde (o que não deixa de ser uma boa, hein?).
Com o burlesco e enérgico “Costello Music” (2006), o Fratellis entrou na cena apresentando um som bem característico. Refrões pegajosos, guitarra alta, um bom vocalista com timbre diferenciado, somado a um power trio competente, em estúdio e ao vivo. Até hoje, “Chelsea Dagger” é uma das canções que te remetem ao passado já nos primeiros acordes (lembra dos hits atemporais?). O disco é um desfile de músicas urgentes, que não rodeiam e entregam uma experiência sem enrolação. Dos melhores daquela época. Altamente recomendável e o maior sucesso da carreira dos escoceses.
Ainda no ótimo segundo disco “Here We Stand”, o grupo conseguiu estabelecer um amadurecimento melódico e, principalmente, das composições. O líder e vocalista, Jon Fratelli, pra mim, ainda é um dos músicas mais subestimados da sua geração e possui grande facilidade para transformar simples canções em refrões de arenas, com letras inspiradas e melodias, que flertam entre o clássico e o dançante.
Após o hiato de 5 anos, o grupo retornou em 2013, com o fraco “We Need Medicine” que, apesar de contar com uma pegada mais rockeira, não agradou crítica e fãs. Existem boas músicas escondidas nesse disco, mas que não chegou a suprir a expectativa do retorno, principalmente após os seus primeiros lançamentos. Assim, em uma sequência esquecível e sofrível com “Eyes Wide, Tongue Tied” (2016) e “In Your Own Sweet Time” (2018), o trio retorna com seu novo disco: “Half Drunk Under a Full Moon”.
É muito importante deixar claro que estamos tratando de uma banda completamente diferente do que escutamos entre 2005 – 2009. Se antes tínhamos um som feroz, com atitude enérgica e volumes ensurdecedores, agora, o grupo possui um perfil muito mais técnico, calcado em construção de melodias através do instrumental, com inserção de sintetizadores e metais, deixando a vibe ainda mais calma.
“Half Drunk Under a Full Moon” tem um conceito bem definido, desde a capa do disco, até o clima inteiro apresentado, as músicas se interligam bastante. Muitas vezes é como se elas não tivessem início, meio e fim, e fossem apenas uma grande história durante os seus 42 minutos de duração. Muitos álbuns utilizam deste artifício, mas não é algo tão simples de se apresentar, principalmente quando não é composto por boas canções, o que pode tornar a experiência do trabalho bem cansativa. É exatamente o que acontece neste sexto disco dos Fratellis.
É curioso perceber que o disco parece ser feito para tocar naquelas famosas formaturas de universitários dos filmes americanos de comédia romântica. Você praticamente consegue imaginar o globo colorido rodando e as danças dos alunos.
Em resumo, a maioria das músicas são baladas bem construídas, demonstrando mais uma vez o potencial de Jon Fratelli em compor melodias bem trabalhadas nesse estilo. A radiofônica “Need a Little Love” já é, de longe, uma das melhores músicas feitas por eles nos últimos 10 anos. “Lay Your Body Down” e “ The Last Songbird” tem aquela pitada de Beatles, acompanhadas dos dedilhados em uma guitarra bem surf music. Destaco também o trio ternura “Strangers In The Street” (uma das melhores canções do álbum), “Living In The Dark” e “Action Replay”.
Porém, ainda que todas essas músicas apresentem uma classe e um conceito bem definido na proposta do disco, o resultado é insatisfatório. Em três audições seguidas, você praticamente esquece que acabou de escutar uma canção e duas já se passaram, devido a similaridade do estilo entre elas. É esquecível e preguiçoso. Também fica perceptível a falta de uma música mais explosiva e marcante dentro do disco. Mesmo que o Fratellis não tenha o ímpeto de 15 anos atrás, seu power trio ainda permanece o mesmo, com um dos bateristas mais viscerais que eu já vi tocar.
A falta de um single ou de canções com mais energia e assinatura deles transformam “Half Drunk Under a Full Moon” em um disco com potencial, porém manso, e que não vai além disso.
E mais, talvez até meu cachorro com 15 anos de idade, seja mais feroz que a fase atual dos escoceses. Pena.