Quinze anos após a gravação de seu último álbum de estúdio, “Brasileira da Gema” (1996), Beth Carvalho volta a encantar público e crítica com seu novo álbum “Nosso Samba Tá Na Rua”, álbum grandioso em todos os sentidos.
A própria capa do disco já dá os sinais de que algo realmente grande (e importante) está pronto para ser consumido dentro da caixinha de acrílico. Os limites impostos pelo tamanho da capa do CD foram ignorados, e a capa do novo disco de Beth se desdobra em um grande pôster, que remete à capa do bom e velho vinil, formato que nos apresentou o que de melhor já foi feito no Samba. A foto, tirada em setembro de 2011, não poderia então ter sido feita em outro lugar, que não no tradicional Cacique de Ramos, reunindo uma turma formada por Zeca Pagodinho, Grupo Fundo de Quintal, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha, Dona Ivone Lara, Rildo Hora, entre outros.
Dedicado à Dona Ivone Lara, que tem o samba “Em Cada Canto Uma Esperança” (Ivone Lara, Délcio Carvalho) gravado nesse CD, o disco apresenta 15 músicas, entre elas a regravação de “Minha História” (Lucio Dalla, Paola Pallotino, VS. Chico Buarque), que ganhou uma linda versão, que agrega o perfil da cantora à já bonita canção. Outra regravação é a do samba “Palavras Malditas” (Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito), raro samba de Nelson, que até então possuía uma única gravação, feita pelo cantor Ari Cordovil em 1957, que ganha aqui um arranjo que lembra o tango.
A boa faixa de abertura, que também dá nome ao disco, é seguida por “Tambor” (Almir Guineto, Daniel Oliveira, Adalto Magalha), um dos sambas mais bacanas do disco. Outros momentos apresentam sambas azeitados, que lembram muito os discos gravados pela cantora entre o fim dos anos 70 e início dos 80. “Colabora” (Serginho Meriti) é um desses Sambas, que ganha um encorpado coro que remete a tempos idos.
Além disso, o formato de seus discos também é reproduzido aqui, como regravações de mestres do Samba, homenagem à Mangueira, caso da canção “Verde-e-Rosa de Paixão” (Claudinho Guimarães), e temática afro-brasileira, em dois momentos “Samba Mestiço” (Ciraninho, Rafael dos Santos, Leandro Fregonesi) e “Negro Sim Sinhô!” (Maqruinho PQD, Efson, Franco).
Produzido pelo maestro Rildo Hora, o disco ainda agrega a participação de Zeca Pagodinho (que também se apresentou na abertura da turnê do álbum no Rio de Janeiro) cantando junto com Beth a (boa) canção “Arrasta a Sandália” (Dayse do Banjo, Luana Carvalho), composição de sua filha Luana Carvalho.
O lançamento desse disco prova a força que o conceito álbum tem, exibindo a sua importância para a música. Com belo repertório, instrumental de primeira, e a interpretação sempre maravilhosa de Beth Carvalho, esse disco confirma que algumas esperas, ainda que longas como essa, valem muito a pena.