Por Anderson Nascimento
Desde 2003 atuando como MC, Mano Réu só veio a descobrir o Hip Hop em 2008, quando passou a se envolver não somente com a música, mas com todo o cenário da cultura Hip Hop. Vieram então as mix tapes “Eternamente Break Dance Vol 1” (2011) e “Vol 2” (2013), que tiveram entre os seus lançamento o primeiro álbum de estúdio do artista “Reinvenção” (2012).
No início de 2017, Mano Réu lançou “Diários”, seu segundo disco de estúdio, gravado ao longo de dois anos, que apresenta o artista no auge de sua maturidade artística, juntamente com 12 novas estórias, sob uma espessa camada de Rap e Hip Hop.
O disco mistura ingredientes que vão além do âmbito musical, apresentando elementos da cultura afro-brasileira, e assuntos que levam em conta questões sociais, caso de “Quem Matou o Sandro?” e da ótima “Câmbio Negro”. O disco passa pelo popular em “O Rap me Levou Pra Vários Lugá”, faixa que conta com as participações de Veredico e Zulu Fernando, que ajudam o protagonista a criar um refrão de repetição hipnótica.
“Diários” também tem levadas mais leves, como “Sozinho”, com participação de Negroh A, e a bela “Orãn e Oxu”, que conta com a participação de Mariana Verônica, que agrega como música incidental “A Lua e Eu”, clássico de Cassiano, regravado por diversos artistas.
A estética social-religiosa está fortemente presente no disco, mais explicitamente em canções como a faixa de abertura “Ilê”, a sua sequência, a ótima “Ponto”, uma referência óbvia as canções cantadas em rodas religiosas.
Vale também a ouvida com atenção no balanção de “Hoje o DJ Me Salvou”, uma das melhores canções do álbum, pronta para jogar o ouvinte para a pista de dança. Heterogêneo até o seu fim, o disco finaliza com colagens da obra da cantora portuguesa Sara Tavares na romântica “Só Pra Dizer”.
O disco é repleto de samplers, efeitos e conceitos sonoros que tornam o disco uma experiência única. Ainda que longe dos holofotes do mainstream, “Diário” é uma grata surpresa deste ano que, apesar de já estar caminhando para a sua metade, ainda não empolgou em termos de lançamentos e novidades. Mano Réu e seu “Diário” chegaram em ótimo momento.