Por Felipe Lucena
Primeiro disco solo de Marcelo Yuka, ex-baterista e letrista d’ O Rappa, “Canções Para Depois do Ódio” deveria ter saído antes. Por tudo o que o Brasil passa, passou e vai passar, o álbum, que tem participações especiais como Céu, Cibelle, Seu Jorge, Black Alien e mais gente boa, é radicalmente pertinente.
Vamos falar de som. A parte instrumental do disco é - dentro do que se propõe o conceito do trabalho - extremamente aberta. Ao mesmo tempo, a junção de diversos gêneros e experimentos musicais, é imensamente bem costurada, provocando uma boa experiência auditiva.
Vamos falar de luz. As ideias de Yuka para letras continuam brilhantes. Capaz de tocar em assuntos obscuros com partidária capacidade poética, o autor da maioria das músicas do clássico disco “Lado A Lado B”, e de outros álbuns d’ O Rappa, jogou seu barulhento refletor em cima de sensíveis e polêmicos debates atuais (e antigos), como política, violência e outros problemas sociais.
No som, destaque maior para “Cortejo Milenar”, com Seu Jorge. Na luz, “O Dia em Que o Homem Se Cansa”, participação de Bárbara Mendes. No todo? É um disco para se ouvir inteiro. Um giro completo. Envolvimento total.
Falando em envolvimento, Yuka participou ativamente da parte gráfica do álbum. A capa do disco revela pinturas feitas por ele, já expostas em seu trabalho nesse seguimento artístico, em dezembro de 2016, no Rio de Janeiro.
Por tudo isso e muito mais, “Canções Para Depois do Ódio” deveria ter saído antes. Mas está tudo bem, a dívida foi paga com juros.