Por Johnny Paul Soares
Limbo é o segundo trabalho independente de Renato Inácio, artista paulistano que pode galgar muitos degraus.
Em 2013, teve sua estreia com o agradável álbum Porão, onde Renato Inácio equilibra com responsabilidade na balança momentos cleans e acerbos com o contraste de suas letras poéticas e maravilhosamente lunáticas.
Limbo é quase o contrário, deixando em vista uma versatilidade interessante. Cru e sujo, Limbo foi gravado em formato power-trio com Renato Inácio (guitarra e voz), Ricardo Blane (baixo) e Gledson Gomes (bateria), com afiadas letras que enfatizam os grandes centros urbanos e o cotidiano popular. Vale ressaltar que Renato Inácio aqui se apropria de uma voz por vezes mais gritada e rouca, caindo muito bem para canções como Estamos Feridos, Ressaca, Ódio Sincero, Hedonismo e para a levada atrevida de Impulsivo.
Se você espera por um disco como Porão, você vai encontrar quase o inverso. Outras intensidades, outras reflexões, outros rumos, como se pulasse de um canto da cidade para outro, sujo e, por vezes, rancoroso (vide a ótima Ódio Sincero).
A capa é uma pintura da artista austríaca Soshana, isenta do nome do músico e do álbum. Para alguns, pode até parecer loucura, mas a verdade é que se deve ter coragem para um feito desse, já que o trabalho é independente e necessita um grande grau de divulgação para tal. Isso pode mostrar o artista em sua real personalidade, nivelando por cima do trajeto comum da mídia sem cair em uma possível artificialidade.
Renato Inácio produziu o trabalho em São Paulo, e a masterização foi realizada pelos dedos do engenheiro de som e produtor musical americano Chris Hanszek em Seattle. Chris já trabalhou com bandas como Soundgarden e Skin Yard.
Com os reflexos de MPB de Porão e a intensidade e desabafo plugados de Limbo, fico na curiosidade do que Renato Inácio irá aprontar em sua próxima investida. Se a sua usina de ideias permanecer intacta, a visão futura é de ótimos frutos.