Por Anderson Nascimento
A batida Folk que reverbera no início de “Tudo de Bem” (Guto Goffi), faixa de abertura do novo disco de Guto Goffi, é só um prenúncio do que a canção vai apresentar a seguir: produção impecável que mescla flauta, acordeão, coros e palmas, além de uma percussão tocada de maneira incrível.
Essa excelente produção é o que dá o tom ao longo do disco, que também se destaca por suas boas composições, como no caso da já citada faixa de abertura, e “Renascida” (Guto Goffi), que encerra o trabalho.
O disco surpreende também por sua diversidade sonora, passa pelo Folk; por canções com levada latina, caso da ótima “Baobá” (Guto Goffi); Maracatu em “Maracatu de Caxangá” (Plínio Araújo), dueto com a cantora Yumi Park; e até um arquétipo de Samba, em “Estrela Solitária” (Guto Goffi, Raul de Barros Jr) que, apesar do nome, não fala sobre o Glorioso.
A cantora Yumi Park, aliás, é uma grande personagem desse disco. Impressiona a sua interpretação solo na belíssima “Lei de Neide” (Guto Goffi), faixa que tem uma pegada progressiva e uma cítara bem postada, tocada por Piero Grandi. Yumi está presente nos vocais de boa parte do CD.
Absurda também, no sentido positivo da coisa, a canção “Bom Que Seja Assim” (Guto Goffi, Claudio Perpetuo), espécie de mistura, tão bem azeitada quanto improvável, de música árabe com canção caipira, regada pelos loops eletrônicos servidos por Luciano Lopes. De cair o queixo!
“Bem” é o segundo disco solo do lendário fundador e baterista do Barão Vermelho Guto Goffi. Para este trabalho, o artista recrutou uma banda, alcunhada de “O Bando do BEM”, formada por amigos selecionados como Markus Britto, Bruno Mendes, César Brunet, Lula Washington, Yumi Park, e o já saudoso companheiro de Barão, Peninha.
Gravado ao longo de dois anos, o sucessor de “Alimentar” (2012) tem levada setentista, inclusive me fez lembrar muito de um disco chamado “Cadernos de Viagem”, segundo da dupla Sá & Guarabyra, que foi gravado com a cantora Marisa Fossa. Outra canção que remete aos gloriosos 70s é “Grão da Vida”, mais uma grande música deste álbum, que é escancaradamente influenciada pelo Clube da Esquina.
“Bem” é um belíssimo trabalho que, sem dúvidas, foi um dos destaques nacionais de 2016. Fora isso, o álbum dá um grande salto de qualidade sob vários aspectos em relação à estreia solo de Guto. O disco merece ser ouvido atentamente por todos que compartilham a paixão pela música brasileira.