Por Anderson Nascimento
Júpiter Maçã é um dos codinomes do cantor, compositor e músico gaucho Flávio Basso, que também usa o nome artístico “Júpiter Apple”, nos casos das gravações realizadas em Inglês.
Júpiter é dono de uma carreira que já conta com mais de vinte anos, somando a sua carreira solo aos anos em que fez parte de duas das maiores bandas gauchas de todos os tempos, o “TNT” e “Os Cacavelletes” (que também incluiu em sua formação Frank Jorge e Nei Van Soria).
“Uma Tarde na Fruteira” é o quinto álbum solo de Júpiter, segundo como “Maçã”. O disco vinha sendo aguardo há tempos pelos seus fãs, pois o lançamento de um álbum como “Júpiter Maçã” não ocorria desde 1997. Se a expectativa era grande, a cobrança certamente não seria diferente, e para a alegria de todos, no lançamento atual o artista consegue atingir o mesmo nível de qualidade de seu clássico “A Sétima Efervescência” - um marco na carreira do artista, aplaudidíssimo pela crítica por chegar a lugares psicodélicos nunca antes navegados por artistas brasileiros.
A ousadia de comparar o disco novo com o velho clássico de Júpiter justifica-se pelo fato de este álbum ter sido costurado ao longo dos anos de abstinência por um novo lançamento do artista. Enquanto não lançava um álbum, Júpiter lançou alguns singles em compactos no formato vinil, que só colocaram mais água na boca dos fãs.
É o caso da hipnotizante “A Marchinha Psicótica de Dr. Soup”, lançada em compacto em 2003. A canção é pura psicodelia ao som de uma melodia de cadência circense que poderia estar facilmente em um disco dos Mutantes. A música abre o disco apresentando em sua letra a salada de influências presentes no disco - “Antes de nada eu gostaria de explicar, segue agora um mosaico de imagens mil...”. E apesar de costurado com os singles, o disco parece mesmo apresentar um mosaico de influências na carreira do artista. A canção que fez na época o lado B desse mesmo compacto, “Mademoiselle Marchand” também está no disco, seguindo a mesma linha, só que desta vez com citações musicais que chegam a lembrar os Mutantes na fase progressiva.
O outro compacto “Beatle George” também está no novo álbum. Já conhecida pelos fãs por ter sido lançada em compacto em 2005, a canção é uma ode ao Beatle falecido em 2001, recheada de “aleluias” e “Hare Krishna´s” a canção é a mais pop e acessível do disco.
“Síndrome do Pânico” é outro single que também marca presença nesse álbum, com referências explícitas a “Birds” e a acidez da segunda metade dos anos setenta, a canção consegue dar uma cadenciada no ritmo do disco, fugindo um pouco da psicodelia e tropicália.
E nesse caldeirão de referências, Júpiter surpreende e põe no disco uma espécie de Bossa Nova internacionalizada, com letras em português e inglês, mas na verdade, a letra é o que menos importa em “Carvão Sobre tela”.
O Rock mais seco tem lugar em “Tema de Júpiter Maçã”, os Beatles são novamente lembrados em “Little Raver”, que possui uma base que lembra “Mother´s Nature Son” do quarteto britânico. Já “Casa da Mamãe” também faz a linha mutante, desta vez é quase possível ouvir o próprio Arnaldo Baptista cantando, tão forte que é a referência.
Seja em momentos tensos como em “As Mesmas Coisas” ou completamente experimental como em “Viola de Aço”- mais Beatles o final lembra “It´s All To Much” – Júpiter apresenta um disco recheado de variações de um mesmo tema, de forma simplesmente brilhante.
Com uma mistura de Rock setentista, tropicália e, principalmente, psicodelismo, “Uma Tarde na Fruteira” já nasce clássico (bem que poderia ganhar uma versão especial em vinil, aproveitando a volta da fabricação nacional pela Polysom) e certamente vai tocar muito até que um novo disco seja lançado – o intervalo entre o primeiro disco do “Maçã“ e esse durou nada menos que onze anos.