Resenha do Cd álibi / Maria Bethânia

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ÁLIBI
MARIA BETHÂNIA
1978

PHILLIPS
Por Guilherme Cruz

Pensar na voz de Maria Bethânia é pensar numa parte indissociável da nossa música popular. Não apenas pelo timbre grave tão característico de seu canto, mas também nas inúmeras músicas que se tornaram clássicos no conjunto da MPB e que tiveram seus discos como veículo divulgador, além de incontáveis artistas que, por terem sido gravados por ela, conquistaram notoriedade. O disco Álibi, de 1978, não foi o que alçou Bethânia ao grande público, pois ela já era consagrada, no entanto este álbum foi um marco por ter sido o primeiro Lp de uma cantora a vender 1 milhão de cópias, colocando todas as faixas como sucessos instantâneos de rádio.

Numa conversa em que o eu-lírico compara sua liberdade, de quem “Vai fundo na existência” com a do interlocutor “Que se chama grã-fino”. “Diamante Verdadeiro” expressa a necessidade de se reinventar constantemente para alcançar a liberdade.

Djavan sempre compôs letras de plástica irretocável, “Álibi” traz Bethânia cantando a suspeita da traição, que como uma farpa penetra na carne das relações, “Mas a gente atura e até se mostra feliz”. Dentro dos conflitos passionais que habitam cada canto do mundo, “O Meu Amor”, componente da peça teatral Ópera do Malandro, de Chico Buarque, é um história sobre a briga de duas mulheres pelo protagonista. Ambas relatam com imensa sensualidade as sensações físicas que sentem no ato sexual com o homem disputado, esses relatos se tornam os únicos argumentos que ambas as mulheres lançam mão para decidirem quem é mais merecedora do malandro em questão. Tendo Alcione em parceria nesta canção.

Outra canção de Caetano Veloso, “A Voz de Uma Mulher Vitoriosa” foi feita para Bethânia. A letra conta a história de uma mulher que canta e “Quem ouve nunca mais dela se esquece”. Ainda falando sobre mulher, “Ronda” versa sobre uma mulher que sai pela cidade em busca da pessoa amada, sonhando em lhe encontrar em algum bar. Acalentando o desejo do encontro e afiando o ódio que leva a sonhar com um crime passional.

Tornando-se um dos grandes clássicos de seu cancioneiro, “Explode Coração”, letra de Gonzaguinha, retoma o tema da traição, porém, diferentemente de “Álibi”, aqui não há a aceitação, mas sim o rompimento, trazendo um vendaval de sensações que “Explode o coração” de quem sofre o rompimento. Após o fim, se torna muitas vezes comum buscar o que se foi perdido, “Negue” traz uma eu-lírico enfrentando a pessoa amada que se vai, questionando a firmeza de seu rompimento. “Sonho Meu” une Gal Costa e Maria Bethânia num dueto de vozes tão opostas que se unem na busca pelo amor que se perdeu.

Neste disco são cantadas as diversas formas que levam ao fim das relações. Em “De Todas as Maneiras” o rompimento é dor menor que o permanecer junto, onde “Nós já nos amamos/ Com todas as palavras feitas para sangrar”.

Mais uma canção da lavra de Chico Buarque, “Cálice” é uma clássica canção de protesto. Porém, na voz de Bethânia, outra possível interpretação nos é permitida. Podemos também vê-la como o relato de alguém magoado com “Tanta mentira, tanta força bruta” de seu parceiro, rompendo com uma relação que atordoa e cala sua voz. Claro que como um disco de 1978, Bethânia não se exime de criticar o regime com uma canção politica, todavia também nos permite ver outra face possível para esta canção.

Depois da agressividade de tons urbanos, das paixões revoltas, “Interior” expressa a beleza da natureza sendo invocada num pedido. Onde o eu-lírico anseia por rever suas saudosas lembranças das cidades do interior. Mas aponta, no final, a importância de se proteger do mau olhado. Como um sinal da necessidade de sempre estarmos atentos e não nos iludirmos com as belezas que nos cercam.

É sempre certo que qualquer disco de Maria Bethânia terá cada detalhe estudado, aperfeiçoado e belo. A escolha das canções, da orquestra, os arranjos e a própria interpretação são partes que se unem em seu trabalho sempre com maestria impecável. E Álibi não foge à regra, aliais, ele é o perfeito exemplo do trabalho desta cantora, que há 50 anos, ainda não se cansou de criar pérolas.

Resenha Publicada em 23/09/2016





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