Por Anderson Nascimento
Quando conheci o trabalho do cantor, músico e compositor Erik Joey, ele tocava sua carreira junto da banda paranaense Gêiser. Ali, naquele surpreendente álbum duplo de estreia, percebi que havia um cara inquieto, que não se satisfazia com o elementar, mas queria mais. Daquele álbum, pelo menos meia dúzia de suas canções tinha um algo a mais e, por serem tão significativas, acabaram me conquistando imediatamente.
O tempo passou, a banda deu tempo ao tempo. Mas Erik, àquela época Erik Figueiredo, continuou o seu ofício de produzir música com coragem e com o coração. Daí surgiu o single “Refúgio”, canção marcante que ganhou um videoclipe não menos marcante.
Seguindo o seu instinto, Erik, atendendo agora como Erik Joey, acaba de lançar “More Than The Truth”, seu novo trabalho inteiramente gravado em língua bretã. Através desse novo trabalho, Erik pôde, enfim, registrar em disco as suas novas canções, alinhando com mais perfeição que outrora as suas influências e inquietações artísticas, falando ao seu público mais do que a verdade sobre os seus sentimentos e seu modus operandi.
Assim as doze canções inéditas de seu novo disco são pequenas amostras do que Erik sempre quis fazer, do que ele gosta de cantar e de ouvir. Essa sinceridade e, mais importante, o seu talento para se expressar certamente conquistarão novos fãs, não só no Brasil, mas em outros países onde a sua música já está tocando. E se você abrir o seu coração, tenha certeza de que também será tocado por essas canções.
O disco está situado em algum lugar entre o Pop e o Rock britânico, passando por diversas nuances como o country, western e soul, tudo com uma boa dose de romantismo, fazendo do disco uma experiência sonora diversificada, porém coerente.
Inicialmente têm-se o pop-Rock hedonista de “Precious Life”, que abre o disco justificando o porquê de seu título, seguido por “Weird Love”, canção de riff apaixontante que te remete ao chamado New BritPop, inciado quando a década de 1980 fechava as portas.
“Emotion Flow” prova que Erik sabe usar os elementos musicais de maneira correta. Com risco iminente de ser tachado como brega, com a introdução da faixa falada, recurso muito usado em canções nos idos dos anos setenta, Erik consegue impor o seu conceito e transformar a canção em uma das faixas mais bacanas do disco. Um detalhe interessante é que a canção foi vinculada como trilha sonora de um comercial de Tv.
Enquanto “Summertime in L.A.” mistura uma espécie de Oasis anos 2000 com elementos contemporâneos, a inquietude já citada aqui como característica marcante de Erik o fez buscar uma parceria internacional para uma parceria que rendeu a contagiante “Stormy Night”, onde a cantora americana Erika Schiff divide com Erik os vocais da bonita faixa que parece se inspirar no contry-Rock de cantores como Garth Brooks.
O talento para produzir cativantes novas melodias transborda em seu primeiro álbum solo. “Angel Eyes”, por exemplo, carrega uma deliciosa melodia assoviável, enquanto “Winds of Southern”, que ganhou um videoclipe com a participação coletiva de vários fãs, já nasceu como um clássico de seu repertório, muito disso pelo divertido coro que te convida a cantar junto, isso sem falar em seu impressionante arranjo que agrega um polido trabalho vocal e um ukelele que trilha o caminho da canção.
Na sequência há a romântica “It Has Begun” e a entusiasta “Fell Alive”, que precedem a baladona “It’s Up To You”, faixa agregadora de um bonito acompanhamento de saxofone. “Doors Must Be Close” traz novamente o ukelele e uma boa pegada western, onde se destaca novamente o arranjo particular da canção.
O disco fecha com “Ballad For a Sad Man”, faixa confessional de clima ameno, deixando a sensação de dever cumprido para o artista, e a necessidade do ouvinte em lascar o dedo no “repeat” do nosso aparelho de som. Vale lembra que Erik também incluiu no fim do disco a faixa-bônus “Without You”, clássico do Badfinger já regravado por diversos artistas.
Em resumo, o primeiro álbum solo do Erik é competente, surpreendente e agradável ao extremo. O disco deixa pra trás toda e qualquer hesitação quanto ao fato de um artista brasileiro estar compondo e cantando em inglês, bem como consegue fugir de facilitismos.
“More Than The Truth” é um disco que te transmite a deliciosa sensação de ser um velho conhecido em sua coleção, mesmo em sua primeira audição, e está pronto para se tornar um velho conhecido de seus players.