Por Anderson Nascimento
Luhli e Lucina são cantoras e compositoras que possuem uma vasta história na música popular brasileira. Com carreira iniciada na segunda metade dos anos sessenta, ainda na época dos grandes festivais de música, Luhli e Lucina foram consideradas revolucionárias na década de setenta tanto em questões culturais como em questões ideológicas e artísticas de uma maneira geral. Precursoras da cena independente, onde eram responsáveis por toda a gestão de seus trabalhos, lançaram o primeiro álbum enquanto dupla em 1979.
O vasto repertório da dupla, que conta com mais de 800 canções, finalmente foi acessado e acaba de ganhar uma homenagem à altura do merecimento da dupla que fora gravada por diversos artistas como Joyce, Wanderléa, Zélia Duncan e, principalmente , Ney Matogrosso.
O cantor e compositor fluminense Dhenni Santos é o responsável pela empreitada, e empresta a sua voz e interpretação a vinte canções, além de ser parceiro de duas novas canções: “Nunca” e “Samba da Risada”.
De repertório musical variado, o álbum revela-se assertivo em relação ao trabalho de pesquisa, que contou com a ajuda das homenageadas, além de também mostrar ser correto na produção e direção musical, também assinada por Dhenni.
A diversidade rítmica do disco é outro chamariz, já que vai desde baladas singelas ao violão, caso de “Regando o Mar”, até elaborados naipes de cordas e metais que se estendem ao longo do álbum. Dessa forma, essa preocupação com cada detalhe presente no disco é certamente um dos grandes destaques do álbum, haja vista a abertura do disco com “Flor Lilás”, que revela muito desse cuidado e se faz arrebatadora trazendo instrumental grandiloquente e encantador.
Embora o ensaio fotográfico estampado no invólucro que acomoda o CD fazer lembrar instantaneamente do cantor Ney Matogrosso, o cantor que acaba sendo lembrado quando o disco começa a tocar é Milton Nascimento, por conta da semelhança do timbre vocal de Dhenni com o de Milton, como reforçam as canções “Coração Aprisionado” e “Garra Guerreira”.
Entre grandes faixas como “Bugre”, e composições belíssimas valoradas pela interpretação do artista, caso de “Escultura”, se apresentam também a força do repertório como na bem sacada “Choro de Viagem”, que brinca com rimas costuradas com nomes de países e cidades.
A faixa “Nunca” é outro momento especial do álbum, já que ganha a participação de Luhli, uma das homenageadas nessa obra. Lucina também aparece na já citada “Samba da Risada”, enquanto a dupla participa junta também em “Viola de Prata”, faixa que reúne as vozes dos três envolvidos nesse projeto.
Encerrando o disco com a belíssima “Ao Menos”, faixa de cativante emoção, Dhenni agrada em cheio, nesse justo e bonito tributo, embora para que cada faixa tivesse ainda mais destaque dentro da obra, o longo repertório bem que poderia ter sido dividido em dois álbuns ou ainda em um mesmo álbum, no formato álbum duplo.
A dupla Luhli e Lucina foi desativada em 1998, e agora cada uma das artistas segue a sua carreira em formato solo, além de estarem experimentando parcerias com outros artistas. Dessa maneira, trabalhos como este belo disco de Dhenni Santos são fundamentais para que as canções da dupla nunca deixem de ser veiculadas para o deleite das gerações mais antigas, e para a descoberta por gerações mais novas e por aquelas que ainda estão por vir.