Álbuns de covers geralmente sofrem um certo preconceito inicial, quando são gravados por bandas instáveis, problemáticas, ou que aparentemente chegaram no ponto em que "já deram o que tinham que dar", em termos de músicas próprias. E se você não é um fã xiita do Guns N' Roses, com certeza associou a banda ao que acabei de falar.
Passado tal preconceito, é hora de abrir a mente, e explorar o "novo" trabalho "da banda". A princípio, este seria apenas um EP com covers de punk, mas que se estendeu, chegando a uma certa variação entre punk e hard rock, que seria bem interessante se fosse feita com músicas inéditas da banda.
Então, considerando que o Guns, a partir do "Lies", passou por uma fase um tanto exagerada, madura (baladeira) em excesso e irregular em termos de estilo (apesar de trazer sempre ótimas músicas), o "Spaghetti" veio em boa hora, no que se trata de estilo. Simplificaram tudo, voltaram às raízes agressivas, e mostraram muito bem a sua essência, a qual já estava começando a se perder aos poucos. E repito: esse trabalho teria sido muito melhor recebido por público e crítica se fosse feito com músicas inéditas da banda.
Agora, vamos analisar as faixas, fingindo que este é um cd de músicas próprias do Guns:
Abrindo o álbum, temos a balada "Since I Don't Have You", totalmente deslocada do estilo da obra e da própria banda. Tem cara de música feita para vender o cd no grande mundo pop. Afinal, no que dependesse das outras músicas, tal álbum nunca chegaria perto dos anteriores em termos de vendas. Mas, vamos ser um pouco ingênuos e fingir que essa música está aí apenas para "assustar" as pessoas, preparando terreno para a alta dose de rock 'n' roll que está por vir. Assim, fica mais divertido, não acha?
Em seguida, "New Rose", "Down On The Farm", "Human Being" e "Raw Power" mostram que o rock de verdade do Guns está de volta, apesar de bem mais simples. A faixa "Ain't It Fun" é um rock mais melancólico, mas que não deixa a peteca cair, especialmente pela sua batida não-convencional.
A sétima faixa, "Buick Makane", traz um pouco de variação e swing à la "Mr. Brownstone" (daquele álbum clássico do Guns, lembra?). Neste ponto, percebemos que este álbum está longe de ser um disco de punk, como muitos dizem equivocadamente.
A faixa seguinte, "Hair Of The Dog", também remete ao hard rock clássico do Guns. Talvez essa seja a melhor música do disco. O punk está de volta com "Attitude", destacando a voz de Duff, bem conveniente para esse tipo de música. A faixa "Black Leather" é boa, mas passa um pouco despercebida.
Suavizando um pouco, temos "You Can't Put Your Arms Around A Memory", que traz um belo violão, mas com uma batida agitadinha que mantém o padrão vibrante do álbum (considerando que o álbum tenha começado mesmo a partir de "New Rose", claro). Por fim, "I Don't Care About You" chega "quebrando tudo" nos seus 2 minutos de puro peso e agressividade.
Isso é tudo? Até que poderia ser, mas a banda resolveu acrescentar a faixa escondida "Look At Your Game Girl", acústica. Ela quebra o ritmo da música principal ("I Don't Care About You"), mas é ignorável, já que se trata apenas de uma faixa escondida, não é?
Concluindo, siga esses conselhos básicos para curtir seu "The Spaghetti Incident":
1. Esqueça que o Guns estava decadente e sem criatividade para compor novas músicas naquela época.
2. Esqueça que esse é um cd de covers.
3. Lembre-se que naquela altura do campeonato, as chances de uma volta inusitada da banda ao bom e velho rock 'n' roll de verdade eram mínimas.
E pronto! Garanto que você irá se deliciar com este bom álbum!
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Publicado originalmente no blog Rock em Análise
http://rockanalise.blogspot.com.br