Por Anderson Nascimento
Por mais que a comparação entre o primeiro trabalho de cada um dos irmãos Gallagher, que durante anos formaram o Oasis, seja lugar comum, é realmente impossível não fazer essa analogia. E o resultado dessa comparação certamente serve de termômetro para uma série de coisas, nível de criatividade, qualidade das canções e êxito.
Partindo do patamar inicial de comparação, ou seja, a antiga banda que reuniu os irmãos, é claro que juntos eles possuem muito mais força que em suas novas bandas. Mas não é por isso que ambos tenham deixado de construir belos trabalhos, muito pelo contrário, o primeiro disco do “Beady Eye”, banda de Liam, é poderoso e representativo, enquanto esse primeiro trabalho da “Noels Gallagher High Flying Birds”, também seja repleto de belíssimas canções.
Ao passo que o Beady Eye traz melodias cheias de elementos que distanciam o som da banda do som do Oasis, o que é bom, Noel se apropria de suas habilidades e bem sucedidas experiências ao longo da vida de sua antiga banda, para formar o som de seu novo trabalho.
De fato, isso pode ser bom ou ruim, dependendo do ponto de vista de quem avalie. Acredito que um trabalho solo deva se distanciar do trabalho feito com sua banda. Não se distanciar ao ponto de se construir algo extremamente radical, mas sim apresentar outras experiências sonoras que leve o ouvinte a algo realmente novo.
“The Death of You And Me”, primeiro single das estreia de Noel lembra bastante algumas das últimas canções do Oasis, principalmente “The Importance Of Being Idle”, com andamento mambembe e tudo. Isso não desmerece a qualidade desse belíssimo primeiro single, mas certamente liga o sinal de alerta.
“(I Wanna Live In A Dream In My) Record Machine” já resgata o formato dos grandes épicos de Noel, sendo um dos destaques do álbum. Esse é o mesmo caso de “Dream On”, outra boa música, mas que segue lembrando o Oasis.
Já “AKA...What a Life!” é o ponto de fuga do álbum, a música é um dos poucos momentos onde Noel navega por mares remotos em seu repertório. A canção traz uma melodia que emula sonoridade Disco, com batida impactante e envolvente, resultando na melhor canção do disco. Uma pena que Noel não tenha utilizado mais dessa ousadia ao longo do disco.
Entre outros bons momentos do álbum, destacam-se “If I Had a Gun”, terceiro single do disco, e “Aka...Broken Arrow”, faixa pulsante e frenética.
O disco também traz “Stop The Clocks”, bela e épica canção engavetada desde a época do Oasis, e que a antiga banda vinha guardando há anos, gerando grande expectativa por parte dos fãs.
Talvez o maior pecado do disco seja a falta de pegada, apesar de não ser muito a praia de Noel, o Rock and Roll, é quase inexistente nesse disco, preterido em prol de baladas, de grande qualidade, diga-se de passagem, o que é sabido que Noel sabe fazer muito bem.
Certamente o que todo mundo esperava do primeiro trabalho de Noel era um bom disco. Ele de fato conseguiu entregar um álbum nesse nível, mas poderia ter ido além, poderia ter se afastado um pouco mais da sonoridade praticada por ele em sua antiga banda, mas de qualquer forma, agradou.