Por Tiago Meneses
Após uma década de 70 em quase sua totalidade bastante interessante, os anos 80 foi a época de dividir boa parte dos fãs do grupo entre os que aceitavam aquela sonoridade 80s que fugia das suas raízes progressivas e os que não se interessavam tanto mais pelo que a banda vinha fazendo em álbuns como The Single Factor e/ou Stationary Traveller. Mas seguindo o bom e velho ditado em que diz que depois da tempestade a bonança, após um hiato de sete anos, os anos 90 serviram pra banda voltar com suas raízes progressivas que pareciam ter sido senão totalmente esquecida, mas pouco utilizadas em trabalhos anteriores.
Essa espécie de regresso as origens resultou em três ótimos trabalhos na década de 90, sendo Rajaz, na opinião desse aqui escreve, o ápice da criatividade da banda naquele período, podendo ser citado inclusive como o melhor álbum desde a trinca que no geral os fãs escolhem como seus melhores discos, Mirage, The Snow Goose e Moonmadness. Rajaz trata-se de um álbum conceitual em que é definido no próprio encarte do CD da seguinte maneira. O conceito desse álbum está no próprio encarte que tem escrito o seguinte: A música dos poetas conduzia antigamente as caravanas através de grandes desertos. Cantada ao ritmo dos passos dos camelos, despertava cansados viajantes para seu único objetivo... o fim da jornada. Esta poesia é chamada "Rajaz". Ao ritmo do camelo. Enfim, o tema do álbum é basicamente sobre a solidão do deserto e todos os seus mistérios. Muito interessante também é como a banda conseguiu criar uma sonoridade totalmente condizente com a temática do álbum, transportando o ouvinte pro meio do deserto. Novamente, Andy Latimer mostra extrema capacidade em criar melodias muito belas e inspiradas, alem de letras de uma carga emocional bastante grande.
O início do álbum é através da faixa instrumental Three Wishes, com um começo que nos remete a Shine You Crazy Diamond do Pink Floyd, só que um pouco mais sombrio, a faixa logo ganha uma mudança de andamento se tornando um excelente início de jornada pro álbum, guitarras e teclados tocados de forma bastante sólidas e com interessantes mudanças de humor.
A segunda faixa, Lost and Found, é uma variação de passagens instrumentais suaves e, outras mais veementes, através de sintetizadores influenciados pela música oriental, linha de baixo extremamente idônea pra ocasião. A guitarra de Andy Latimer também merece destaque aqui na parte final da música com uma bela instrumentação a desacelerar o clima da faixa. Ainda sobre o guitarrista, seus vocais estão bem suave e com timbres baixo, nada de excepcional, mas serve como uma luva pro tema do álbum.
Chegado a The Final Encore, novamente a influência da música oriental aparece em grandes doses. Uma faixa que não me soa muito bem, de cadência lenta, faz parecer de fato que o ouvinte está andando em cima de um camelo, as teclas em algumas partes estão com uma sonoridade bastante 80s e Andy está com um vocal demasiadamente melódico, parecendo um morto vivo. A faixa não chega a ser ruim, mas alguns detalhes poderiam ter sido mais bem trabalhados.
O quarto passo dessa jornada pelo deserto é o da música homônima ao álbum. Rajaz é uma faixa de caráter bastante melódico onde a carga emotiva da sua execução é bem elevada por conta do vocal e guitarra de Latimer extremamente bem cadenciado e coeso com a temática com álbum. Também conta com um belo e relaxante solo de guitarra, ótima faixa.
Shout confesso que é a canção do álbum que embora não ache ruim, é a que menos chama minha atenção, extremamente simples, um uso de moog totalmente sem propósito algum, alem de que a música foge um pouco das atmosferas apresentada nas outras faixas, o que se tratando de álbum conceitual, é um ponto negativo.
Straight To The Heart , mais uma bela faixa. Em alguns momentos, certas passagens de guitarras podem fazer o ouvinte remeter a faixa Rajaz, mas a semelhança é mais enganosa do que qualquer outra coisa. Uso de slide guitarra com muita propriedade, teclado, baixo e bateria fazem uma cama melódica a qual a guitarra e voz de Latimer deitam bem à vontade construindo um dos momentos mais bonitos do álbum, com direito a um solo final de extrema beleza e bom gosto.
A penúltima faixa do álbum é a excelente Sahara. Baseado no que disse mais lá no começo sobre o álbum ser de uma sonoridade bastante condizente com a temática, aqui é um dos momentos onde eles mais fazem isso com destreza. Um trabalho magistral por parte de Andy Latimer, uso de guitarra jazzy e um solo fascinante, bateria e baixo preenchem seus espaços com ótimas seções rítmicas, alem de novamente um excelente uso de teclas. A influência oriental aqui se apresenta de forma perfeita. Ainda que todos tenham feito bem o seu papel, é inegável que aqui novamente o destaque é a guitarra de Andy Latimer.
O ultimo trajeto dessa viagem pelo deserto é através da faixa Lawrence, uma música de um solo extremamente belo, mas tirando isso, não tem um atrativo tão grande assim, poderia ser mais curto, parece que a faixa se arrastou demais sem necessidade. Rajaz chega ao fim com uma música mais ou menos, ótimo solo, mas ainda assim, cansativa.
Bom, mesmo que com suas influências diferentes das usadas nos anos 70, em Rajaz a raiz progressiva do grupo está em extrema evidência, mostrando um trabalho criativo, inspirado e uma banda em sua melhor forma no período pós 70s.