Por Valdir Junior
Se estivesse vivo McKinley Morganfield, mais conhecido como Muddy Waters, estaria completando em 2015, cem anos de idade. Um dos grandes mestres do Blues, Muddy Waters, foi influenciado por Robert Johnson e Son House, e foi um dos primeiros músicos a fazer a transição do Blues rural (acústico) para o urbano (elétrico), levando o estilo a uma nova fase de popularização, expandindo seu público, o que acabaria influenciando diretamente o surgimento do Rock and Roll e de músicos como Eric Clapton, Keith Richards, Rory Gallagher, Bod Dylan entre outros.
Suas primeiras gravações, acompanhado apenas de seu violão, em autênticos blues de raiz, foram chamadas de “The Plantation Recordings”, gravadas pelo historiador Alan Lomax em uma plantação de algodão em Clarcksdale, Mississipi em 1941, para serem incluídas no Biblioteca do Congresso Americano, representam o período rural de Muddy. Em 1943 ele se mudou para Chicago, e em 1946 assinou um contrato de gravação com o selo Aristocrat (que mudaria o nome logo depois para Chess, nome de seus donos Leonard e Phil Chess) onde foram lançados todos os seus principais sucessos.
Lançada em 1989, a caixa “The Chess Box”, com três CDs, traz setenta e duas faixas gravadas por Muddy nos estúdios da Chess entre 1947 e 1972, músicas essas que se transformariam em clássicos eternos do blues e presentes no repertório de qualquer estudante do gênero. No começo da carreira Muddy basicamente lançava apenas singles, a sua maioria está presente nos dois primeiros CDs da caixa, faixas como “Gypsy Woman”; “I Can't Be Satisfied”; “Rollin' And Tumblin', Part 1”; “Baby Please Don't Go”; “Rolling Stone”, que inspiraria na Inglaterra um jovem Brian Jones a dar esse nome à sua banda com Mick Jaguer e Keith Richards; e “Hoochie Coochie Man”.
A partir de 1960 com o sucesso da apresentação de Muddy no Newport Jazz Festival, a Chess lançou alguns álbuns essências dentro da discografia do músico: “The Fok Singer” (1964) o primeiro unplugged da história; o psicodélico “Eletric Mud” (1968); “After the Rain” (1969); “Fathers and Sons” (1969) e “The London Muddy Waters Sessions” (1972), todos esses álbuns tem suas principais e mais significantes faixas presentes no terceiro CD, que também traz algumas músicas com takes diferentes e raros.
Ouvindo faixa-a-faixa as músicas de Muddy Waters aqui presentes, podemos com um pouco de atenção, conseguir traçar a cada frase, riff de guitarra, levadas e passagem de bateria, temas e motivos que seriam os alicerces e base da estrutura do som que bandas como o Led Zeppelin, Cream, The Allman Brothers, Doors, Jimi Hendrix, Stones e Free fariam no futuro, influenciando também outros ritmos que apareceriam mais tarde como o Hip Hop e o moderno R&B americano.
Acompanha em “The Chess Box” um livreto com 32 páginas, com textos dos jornalistas Mary Katherine Aldin e Robert Palmer, ambos estudiosos do Blues, contando um pouco da história e analisando a música de Muddy. Mesmo que nos últimos anos já tenham sido lançadas várias compilações cobrindo a carreira de Muddy, algumas até com muito mais faixas e outras preciosidades que só os mais fanáticos procuram, “The Chess Box” continua sendo a antologia muito mais direta, representativa e funcional do período de maior produtividade da carreira de Muddy Waters.