Por Tiago Meneses
Certo que existem muitas características que acompanham bandas que fazem rock progressivo, mas sem dúvida alguma duas das principais delas são a capacidade de fazerem álbuns conceituais e de desenvolverem épicos (canções que tem uma duração maior do que a média e costumam narrar uma história). "Thick as a Brick contém ambas essas características.
O enredo é sobre um garoto fictício chamado Gerald "Little Milton" Bostock que escreve um poema complexo para uma competição, mas que é desqualificado pelos juízes sobre o pretexto de ter usado uma palavra que não é dita claramente em momento algum do álbum, mas que deixa subentendido que trata-se de uma expressão de 4 letras. Mas a preocupação está ligada ao poema por inteiro, com a sua moral e toda a temática forte abordada nele. Por isso decidem dar a vitória a uma garotinha de 12 anos que escreveu algo bem mais simples sobre ética cristã chamada "ele morreu pra salvar as crianças pequenas". Enfim, a temática de "Thick as a Brick" gira em torno da influência negativa da sociedade sobre as pessoas, de maneira a não permitir que elas pensem por si próprias, como tentou o jovem Geral Bostock.
Pode ser visto como um tema simples e engraçado, mas trata-se de uma sátira ferrenha sobre a hipocrisia da sociedade britânica, que muitas vezes se esconde atrás de uma falsa moral pra evitar falar de temas polêmicos que eles sabem que são verdadeiros, mas querem mantê-los na obscuridade.
"Thick as a Brick" também contém uma das melhores capas da história. A apresentação original do álbum é impecável. São 12 páginas simulando o St. Cleve Chronicle (um pequeno jornal da cidade), que incluem as letras, a história toda, créditos e até mesmo uma acusação de estupro contra o personagem Little Milton por uma menina mais velha.
Um álbum que é confeccionado com tamanho cuidado em todos esses aspectos, musicalmente não poderia ter um resultado final inferior a brilhante, magnífico. Lindas peças acústicas medievais, tanto por parte dos violões quanto dos teclados. Partes mais pesadas que nos remetem ao Hard Rock, influências folclóricas. Mas considero presunção tanto da minha parte quanto de qualquer um que queira descrever em palavras uma obra tão magistral quanto "Thick as a Brick". Mas vale destacar também obviamente Ian com a sua tradicional flauta, maneira ímpar de interpretação vocal e belas ideias no violão. Mas sem dúvida, John Evans é a grande surpresa, os teclados são completos e carrega o peso de todo o álbum, e não uma nota redundante ou sons desnecessários, tudo está certo em seu lugar.
Martin Barre também tem participação crucial, especialmente nas partes pesadas quando sua guitarra acrescenta personalidade e força para a música. Barriemore Barlow nas baquetas é sempre rigoroso, embora ele não brilhe, executa o que é necessário para manter a seção rítmica com o baixo de Jeffrey Hammond que faz um excelente apoio.
Mais uma vez eu me recuso a fazer uma longa descrição da música, porque seria injusto falar de movimentos, influências, pontos altos, etc...porque "Thick as a Brick" é o álbum, Jethro Tull estava em seu auge e ninguém pode descrever de maneira razoável que seja 43 minutos de uma verdadeira obra prima como essa, não de uma forma que faria justiça real.
As letras são de fato o texto do poema de Gerald "Little Milton" Bostock (que é creditado como co-autor, piada de Ian) e merecem ser ouvidas com atenção especial porque são muito complexas e tocam em assuntos muito controversos.
Não há muito mais a dizer, simplesmente porque "Thick as a Brick" na minha visão é um dos trabalhos que entram no pequeno rol de discos perfeitos, se você ainda não ouviu, você está perdendo um dos álbuns mais fundamentais da história do rock progressivo e uma verdadeira obra prima que deve ser de propriedade de todo mundo que tenha um mínimo de apreço pelo estilo.