Por Tiago Meneses
Magenta compreende em seu line up oficial p virtuoso tecladista, produtor e compositor Rob Reed, o subestimado, mas talentosíssimo guitarrista, Chris Fry e a premiada vocalista Christina Booth. Nesse disco eles estão acompanhados pelo baixista que tem se apresentado regularmente ao vivo com a banda, Dan Nelson e pelo novo baterista Jon Jiffy Griffiths, músico bastante respeitado na cena.
Particularmente a primeira vez que me senti atraído pela banda foi através do disco Seven, lançado em 2004 e que ainda hoje considero um dos melhores álbuns de rock progressivo desse século. A banda mostrou uma incrível capacidade de conjurar passagens influenciadas pelo Yes, me fazendo sentir muitas vezes a maravilha de sentimento criado pelos ingleses na primeira metade dos anos 70. Um aspecto que permaneceu constante em todos os trabalhos da banda foi a presença de belas melodias enfatizadas pela combinação única de composição de Reed em seus teclados, a excelência de Fry nas guitarras e a magnífica voz de Booth, dando um toque feminino diferenciado.
Mas depois de Seven a banda pareceu seguir algumas tendências de querer tentar algo diferente. Essa necessidade que era extremamente compreensível quando falamos de um músico do status de Reed, às vezes resultou em respostas variadas, particularmente quando sons mais pesados ou mais sombrios foram criados. Claro que continuou existindo muitos momentos excelentes em cada um dos discos gravados pela banda, mas ainda assim não tinham a mesma consistência (talvez até por Seven possuir um padrão alto demais de comparação).
Mas voltaremos a falar sobre o ano de 2017 quando os adeptos e ansiosos seguidores da banda voltaram a ser informado por Reed que depois de uma volta às origens em 2013 com o excelente The Twenty Seven Club iriam tentar novamente algo diferente. Por que fazer isso? Por que mudar algo que estava tão bom? Foi inevitável pensar que o que havia sido feito em 2013 não poderia ser melhorado com esse pensamento da banda. Nunca fiquei tão feliz em está enganado.
Sem muitas comparações com lançamentos passados, esse disco é brilhante de maneira particular, soando diferente e ao mesmo tempo familiar. Embora inovador e moderno, de alguma forma permanece fiel às raízes clássicas da banda e é imensamente satisfatório.
We Are Legend é composto por um épico de 27 minutos e duas canções mais curtas. Isso soa familiar? Sim, algo como aconteceu em Close to the Edge do Yes. Bem, enquanto a Magenta referenciou as influências dos 70 quando necessário, eles também procederam a inovar sem comprometer onde sentiram a necessidade de fazê-lo, e o resultado é espetacular.
O disco abre com Trojan, que apresenta uma história de guerra terrorista que atacam a humanidade do oceano. Uma viagem de vinte e sete minutos com várias partes distintas. Começa com sons estranhos de teclado e uma suave melodia que explode em uma passagem pesada de violão. Logo no começo, Griffiths faz com que sua presença seja bastante sentida nas baquetas, Reed e Fry já se completam naturalmente em instrumentações fortes. A introdução da voz de Booth na música apresenta um dos mais poderosos versos que a banda criou na carreira. Há uma intenção clara nesta música de dar a cada artista uma chance de brilhar onde em todas as oportunidades o músico em questão foi bem sucedido. Acima de tudo, a música tem todas as perspectivas que você deseja em um épico progressivo. Espere ternura e raiva, peso e leveza, alquimia sonora em passagens dando ideias vertiginosas no som, entrega teatral, partes distintamente diferentes juntas em um tema comum e uma forte atração em cada uma de suas emoções. A banda está na melhor forma e a precisão parece ser ordem do dia. Os preenchimentos de Griffiths são perfeitamente elaborados para encaixar exatamente no que Fry e Nelson estão tocando. Criações cuidadosamente preparadas sob a orientação principal de Reed (já que sempre foi o principal compositor da banda). O trabalho da guitarra de Fry, como sempre, é assustador. Ele realiza progressões de jazz com muita facilidade, e seus interlúdios de momentos acústicos são particularmente de muito bom gosto. É claro que seus solos elétricos são, sem exceção, surpreendentes. Também se sente que Nelson, que apesar de suas aparições regulares ao vivo com a banda, gravou com Magenta pela primeira vez aqui, atingiu seu passo com grande precisão em um som de muita imensidão. Chover no molhado é falar de Booth e Reed e no quanto são magníficos artistas que se entregam aos níveis mais altos como em todos os discos.
É fato que com uma música desse comprimento, a banda tem espaço para respirar, e a composição passa por muitos picos. O solo de guitarra principal é Pink Floyd puro, e atrairá sem rodeios qualquer devoto de David Gilmour. O interlúdio do meio dá a Booth o alcance para parecer um anjo. Sua voz versátil passa de lamento angustiado a carícia suave e lembra-nos que ela mais do que merece seus inúmeros prêmios e elogios. Griffiths fornece um solo de estilo roto-tom que é uma reminiscência de Time" do Pink Floyd, que leva a uma seção em que Reed sincopa efeitos de teclado acompanhado do contrabaixo de Griffiths (possivelmente destinado a conjurar os robôs gigantes marchando para a frente). Isso, por sua vez, leva a um riff de guitarra que é a cara da banda e poderia ter sido feito em Seven. Finalmente, uma passagem de rock mais moderno leva a um fim que dá uma sensação de consolo e paz. Uma mistura do Magenta clássico unido a algo novo muito bem direcionado, onde depois de quase meia hora de música tudo continua bastante engrenado.
A segunda faixa, Colours é sobre Vincent van Gogh. Começa com um toque meio infantil em um som que parece sair de uma caixa de brinquedo antes de explodir em camadas veementes de música progressiva. Se a música é sobre a paleta de um gênio, as cores musicais pintadas pela banda evocam exatamente isso. Booth quase cuspiu as letras ao adotar a personalidade de Van Gogh, e ela evoca perfeitamente sua loucura. A seção do meio mais uma vez apresenta Fry no modo Gilmour completo e Reed canalizando Rick Wright. Isso teria algum problema? Falta de originalidade? Muito pelo contrário, na verdade não há absolutamente nada de errado com isso. O mesmo toque inicial retorna e se junta a uma acumulação angustiante de órgão, violões e vocais, tudo se contrapondo magicamente. A precisão mostrada por Griffiths mostra novamente que ele foi a escolha perfeita para assumir a bateria da banda. Como a vida de Van Gogh atinge o seu fim atormentado a banda acompanha o tempo em um lento turbilhão de loucura musical calculada, terminando em uma resignação silenciosa. Colours é outra ótima música que mostra a Magenta no seu melhor.
A terceira e última música da banda é Legend e que fala sobre os últimos sobreviventes na Terra. É uma música mais angular, uso de maneiras menos óbvias de suas influências e que faz com que a banda seja tão admirada. Mas isso também não faz com que seja vista com más olhos. Possui coros e versos que são uma cama perfeita para que a gama emotiva de Booth deite tranquilamente. Tem muito efeito de sons de ficção científica modernos, criado por artifícios de estúdio. O solo de Fry é belíssimo e o refrão de Its Over cantado por Booth é de levar as lágrimas. A passagem final, uma pastoral e em seguida triunfante marcha lenta até a felicidade faz o ouvinte lembrar os anos 70 e que levou muitos dos fãs da banda a se apaixonarem por ela. O encerramento dessa passagem termina o álbum em um clímax agradável.
Apesar de alguns problemas como a doença de Booth e mudanças na banda. Através de We Are Legend eles mostraram que estão aqui para ficar e, embora possa haver uma nova atmosfera, novos membros e alguns sons novos, a base do progressivo de muito bom gosto que é o que se espera do Magenta clássico, também não foi embora, mas tem apenas um novo toque. Mais uma vez estenderam-se além do que qualquer fã razoável pode esperar, e além entregar algo clássico que irá apaziguar os fãs intransigentes, também produziu algo capaz de fazer com que atinge um novo público e aumente seu número de seguidores. Lindo do começo ao fim.