Resenha do Cd Joyce Anos 80 / Joyce Moreno

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JOYCE ANOS 80
JOYCE MORENO
2016

180 SELO FONOGRÁFICO
Por Anderson Nascimento

Compositora, cantora e intérprete revelada na época dos grandes festivais, Joyce Moreno tem agora os seus quatro primeiros álbuns reunidos em box lançado e produzido pela gravadora Discobertas. Tais álbuns flagram a cantora em um momento que pode ser considerado como um divisor de águas em sua carreira, onde o seu trabalho passava por uma renovação musical, que sustentaria o início de uma bela trajetória internacional.

O primeiro disco do box é o melhor entre os quatro contidos no box. O CD abre com o sambinha que dá nome ao disco, “Feminina” (Joyce Moreno), e impressiona pelo seu arranjo instrumental. Vale destacar o solo de flauta do Mauro Senise, e os vocais de Lizzie Brazo. Joyce esbanja desenvoltura na interpretação da canção.

Outro grande destaque desse álbum é a faixa “Mistérios” (Joyce Moreno, Maurício Maestro), faixa gravada com muito sucesso por artistas como Milton Nascimento e Nana Caymmi. O sucesso “Clareana” (Joyce Moreno, Maurício Maestro) também é outro ponto de destaque no álbum, principalmente pelo lindo arranjo vocal.

O disco é marcado pelo impressionante suingue alcançado pela cantora em canções como “Clareana”, “Banana” (Joyce Moreno) e “Aldeia de Ogum” (Joyce Moreno), que evocam a brasilidade das canções deste período. O disco fala de coisas do Brasil e amizade como em “Da Cor Brasileira” (Joyce Moreno, Ana Terra) e a maravilhosa “Revendo Amigos” (Joyce Moreno), balada regada de emoção, que também está estampada em “Essa Mulher” (Joyce Moreno, Ana Terra), uma profunda e emotiva ode a mulher que foi sucesso também com Ellis Regina.

Baseado na tríade de músicos Joyce, Tutty Moreno e Fernando Leporace, o disco ainda conta com um time brilhante de participações especiais, entre elas, Gilson Peranzetta, Mauro Senise e Danilo Caymmi.

A versão do álbum inclusa no box ainda agracia o ouvinte com 5 faixas bônus, entre elas, as bonitas “Acalanto” (Antônio Adolfo), com Antônio Adolfo.

De sonoridade mais leve, “Água e Luz” dá sequência ao trabalho de Joyce nos 80s, com destaque para a natureba faixa de abertura “Monsieur Binot” (Joyce Moreno), o sucesso radiofônico do disco. O disco conta com as participações do grupo “Céu da Boca” e da cantora Lizzie Bravo, em dueto na belíssima canção “Banho-Maria” (Joyce Moreno, Ana Terra).

Destaca-se também em “Água e Luz” a faixa “Moreno” (Joyce Moreno), que agrega bela intervenção de Mauro Senise no sax e do homenageado Tutty Moreno na percussão, e “Samba do Gago” (Joyce Moreno), dueto com a sanfona e a voz de Sivuca.

Apesar de seguir quase a mesma linha do álbum anterior, o disco teve um orçamento mais enxuto e sofreu com a pouca divulgação por parte da gravadora, muito provavelmente por conta de um mal-estar causado pela gravadora ter usado indevidamente as bases da canção “Clareana” em uma coletânea.

“Tardes Cariocas” traz Joyce em disco independente, após o seu contrato não ter sido renovado com a Odeon. Inédito em CD no Brasil, o disco começa de maneira excepcional com a faixa título.

O disco, de sonoridade ensolarada, como provam canções como “Curioso” (Joyce Moreno, Marcos Ribas), traz a rica participação de Ney Matogrosso na releitura de “Nacional Kid” (Joyce Moreno), uma das melhores canções do álbum. Egberto Gismonti é o outro conviva do disco, participando da metade das faixas do disco, com destaque para “Luz do Chão” (Joyce Moreno, Ana Terra). Vale citar também que é desse disco a canção “Duas ou Três Coisas” (Joyce Moreno), canção que acabou se tornando muito importante no repertório da cantora.

Curiosamente essa nova versão relegou “Diga Aí, Companheiro” (Joyce Moreno) como faixa bônus do disco, enquanto na versão original ela abria o disco. A justificativa de Joyce é que a canção, originalmente escrita para o grupo “As Frenéticas”, destoava do conceito do álbum. A outra faixa bônus do álbum é “Planeta Azul” (Mario Adnet, Juca Filho), faixa gravada por Joyce no álbum (também independente) do colega.

O último disco do box, “Saudade do Futuro”, lançado em 1985, também inédito em CD, abre com curiosa versão feita por Joyce para “When I’m Sixty Four”, dos Beatles, que virou “Velhos no Ano 2000”, que poeticamente se alinha com o futuro proposto no nome do álbum.

O último disco do box, “Saudade do Futuro”, lançado em 1985, também inédito em CD, abre com curiosa versão feita por Joyce para “When I’m Sixty Four”, dos Beatles, que virou “Velhos no Ano 2000”, que poeticamente se alinha com o futuro proposto no nome do álbum.

O disco inaugura um formato um pouco diferente dos álbuns anteriores, trazendo o balanço de Arthur Maia e os arranjos de Gilson Peranzzetta, produzindo uma levada que ajudou a cantora em sua carreira internacional, que vinha de vento em popa, desde antes do convite para a gravação do disco, quando a cantora vinha de shows na Rússia, Japão e Cuba.

Entre os destaques estão as homenagens “Tema Para Jobim” (Gerry Mulligan, Joyce Moreno), que tem a luxuosa participação de Milton Nascimento, e “Fã da Bahia” (Joyce Moreno), faixa repleta de brasilidade que saúda o estado da Bahia. Outra faixa que ajuda a entender o momento que esse disco flagra é “Stone Washed” (Joyce Moreno, Monique Hecker), espécie de blues no formato jazzy. Dentro desse mesmo conceito, o disco encerra com uma bonita releitura do samba “Ziriguidum 2001” (Gibi, Tiãozinho da Mocidade, Arsênio), um dos hinos da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

De grande importância artística, esse novo box que a gravadora Discobertas põe no mercado traz à tona um momento fundamental na carreira dessa grande cantora que, impressiona com sua voz e talento, mesmo quando a canção não possui letra, casos de algumas músicas presentes neste box, como as parcerias com Antônio Adolfo, ou “Pega Leve” (Joyce Moreno).

As reedições trazem os discos originais remasterizados, além de todas as informações possíveis quanto a ficha técnica de cada disco, reprodução dos encartes e letras das canções e, ainda, textos riquíssimos de Maurício Gouvêa, que ajudam o ouvinte a entender melhor cada disco do box. Trata-se de um item fundamental na discoteca de qualquer fã da música brasileira.

Resenha Publicada em 14/12/2016





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