Por Rafael Correa
Presenciar o encerramento das atividades de uma banda cujo trabalho pode ser adjetivado como, no mínimo, “respeitável” é uma tarefa árdua e difícil. Árdua, pois nem sempre é possível sopesar com imparcialidade o derradeiro capítulo de sua história; difícil, pois é de certo maneira, triste perceber que o tempo, por mais silente que seja, faz incidir seus efeitos até mesmo naqueles que, a princípio, julgamos imortais e perenes. “Sting in the Tail”, disco que recebeu o fardo de representar a despedida dos Scorpions, pode seguramente ser observado pelos prismas acima descritos.
No entanto, quando o riff de “Raised on Rock” começa a surgir nos fones, a tristeza pelo fim começa a se dissipar. Construída nos mesmos moldes e através da mesma receita que fizeram de “Rock You Like a Hurricane” um hino, esta canção é capaz de levantar até mesmos aqueles que se recusam a abrir os ébrios olhos após uma noite de pura exaltação. A letra da canção deixa claro: o desejo e a diversão são os guias dos Scorpions, que magistralmente souberam capturar sua veia mais pulsante e transformá-la em 3:58 minutos de puro furor. A faixa título, ainda que de modo diverso, também apresenta interessantes de vibração, condensados em efeitos de estúdio que lhe caíram muito bem.
Outro grande destaque é “The Good Die Young”, canção que se alicerça muito bem na alteração de um calmo fraseado de guitarra com o beat marcante de bateria, guiados pela instigante letra até a verdadeira explosão que é o refrão, igualmente simples e fácil de lembrar: não se surpreende se, ao atravessar a rua dois dias depois de ouvir o disco, você assoviar o ritmo do refrão. “No Limit” e “Rock Zone” são a dupla de peso do disco: amplamente tendentes ao heavy rock, pulsam em compasso acertado ao batimento cardíaco do ouvinte.
“Lorelei” e “Sly” mostram que a aptidão do grupo em construir baladas de qualidade, que se distanciam da futilidade pela qualidade, ainda permanece intacta: basta ouvi-las para fazermos uma viagem no tempo, através da história da banda. Em sinal de despedida, a calma “The Best is Yet to Come” parece tentar confortar aqueles que acompanharam a história dos Scorpions, mostrando que, literalmente, “o melhor ainda está por vir”, indicando força e emoção através de uma batida forte e um coro que brada ostensivamente o titulo da canção: parece que podemos prever platéias de todo o mundo cantando com o grupo a canção que encerrará grande parte de suas apresentações em sua tour de despedida.
Por fim, chega-se a conclusão que “Sting in the Tail” cumpre sua missão em traduzir a despedida de Klaus Meine e seus companheiros. Deixemos, pois, o disco falar per si, apenas tendo uma certeza: é nossa missão relembrar e perpetrar pelo tempo a história de memorável grupo. Assim, as canções dos Scorpions serão como esperamos: perenes, eternas. Vida longa aos Scorpions e ao verdadeiro rock and roll.