Em mais um box temático, o selo carioca Discobertas apresenta aos ouvintes o som que era consumido pela juventude carioca nas baladas da boate Drink em Copacabana. Trata-se de Djalma Ferreira e Seus Milionários do Ritmo, banda sustentada pelo ativo tecladista que também era dono da boate e de uma gravadora.
Nascido á exatos 100 anos, Djalma Ferreira estudou piano durante seis anos, enquanto morava na Itália, até voltar ao Brasil aos 18 anos, onde se espelhou na virtuosa pianista Carolina Cardoso de Menezes, tornando-se profissional entre as décadas de 30 e 40, quando teve a oportunidade de conhecer nomes ressonantes da música brasileira.
Após abrir a sua boate, Djalma passou então a gravar discos com sua banda. Esses primeiros álbuns chegam agora aos pesquisadores e interessados no passado de nossa música, trazendo os álbuns que deram a partida para uma carreira bem sucedida, que fez de Djalma um músico super popular em termos de vendagens de discos e de realização de shows.
O Box traz então oito álbuns, embalados em sete CDs – os álbuns “Parada de Dança Vol.1(1953) e Vol.2 (1954)” estão juntos no primeiro volume da coleção -, com a íntegra dos trabalhos gravados entre 1953 e 1959.
Entre os discos, há também canções cantadas, casos de, entre outras, “Tanto Quanto Eu” (Nestor Campos, W. Santos) e “Eu Já Não Sei” (Djalma Ferreira, C. Nunes), presentes no primeiro volume, e interpretadas pela cantora Helena de Lima.
Outro fato que vale muito a pena o destaque é a participação do cantor (e sambista) Miltinho como vocalista em três faixas do disco “Drink” (1956), em duas faixas no disco “Dançando no Drink” (1957), e em cinco faixas no disco “Drink no Rio de Janeiro” (1959), o encontro entre Djalma e Miltinho voltaria a se repetir muitos anos depois, em 1981, quando Djalma esteve no Brasil para a inauguração da boate “Un Deux Trois” no Leblon.
Ainda tratando do assunto encontros, cabe também o registro da incrível banda que participa do disco “Depois do Drink” (1959), que conta com a rica formação: Djalma Ferreira (órgão e piano), Ed Lincoln (piano e contrabaixo), Walter Branco (guitarra e contrabaixo) e Hélcito Milito (bateria).
Outro fato curioso entre os discos que compõem o box, trata-se do registro de “Mirian Presley e Seu Piano”, álbum de 1958, já lançado pela sua gravadora “Drink”- uma das primeiras independentes a figurar no Brasil -, que na verdade fora lançado sob o pseudônimo de Mirian Presley, fato corrigido no relançamento de 1963, que atribuiu o disco ao próprio Djalma Ferreira. Entre as faixas, o disco reproduz os clássicos “Cabecinha no Ombro” (Paulo Borges) e “As Time Goes By” (Herman Hupfeld).
Já “Música Para Dançar”, disco de 1956, organizado pela Continental, e lançado em um disco de 10 polegadas, é um álbum que chama a atenção, pois reúne oito faixas gravadas pelo pianista em discos de 78 rpm em diversos momentos. Este disco também ganha cinco faixas bônus nessa nova edição em CD.
Nos anos 1960, Djalma Ferreira seguiu o caminho que parecia natural para os artistas que dominavam piano e teclados no Brasil – como João Donato, Walter Wanderley e Sérgio Mendes -, ou seja, partiu para os Estados Unidos onde gravou outros discos e estabeleceu-se definitivamente, até falecer em 2004 aos 91 anos de idade.
Trazendo a já reconhecida qualidade dos boxes (e lançamentos em geral) da gravadora Discobertas, essa coleção não hesita em reproduzir as capas originais e todas as informações possíveis sobre os fonogramas e os discos contidos, além de incluir, eventuais faixas bônus, em mais um lançamento histórico protagonizado pela gravadora do pesquisador Marcelo Fróes.