Por Thais Sechetin
Acho que o primeiro assunto que assombra a mente de algumas pessoas quando falamos de Greta Van Fleet é: “Mas pô,cê acha que o Rock morreu mesmo?” É esquisito, mas é fácil fazer essa associação, talvez pelo fato da banda ser formada por meninos muito jovens mas que fazem um som totalmente voltado para os anos 70…
Gene Simmons aposta que sim, o rock morreu, Alice Cooper rebate que não, Dave Grohl aposta nas gerações mais jovens. Somamos esse trelelê com os shows e turnês ainda suspensos, bandas que não gravavam há séculos “fazendo a Fênix”, ressurgindo com bons trabalhos, enfim...Em meio a esse caos ,assim, meio que discretos o Greta começa a anunciar e disponibilizar singles nas plataformas digitais e lança no último dia 16 seu segundo álbum de estúdio, o The Battle at Garden´s Gate.
Trata-se de um trabalho menos suave que o anterior e mais voltado para o melódico, com uma postura amadurecida. Embora nas faixas de abertura Heart Above e My Way,Soon a gente tenha a impressão de que a banda não mudou nesses poucos anos,ela mudou sim e amadureceu consideravelmente, basta continuar ouvindo o álbum para perceber. Aquele Rock cru, com arranjo Folk e vertente setentista que tanto gerou polêmica no começo cedeu espaço para músicas mais elaboradas,melodias extensas, maior potência na voz de Josh Kiszka e uma leve referência até do Heavy Metal Melódico.
Algumas músicas como Age Of The Machine, que aborda a vida do ser humano relacionada com a tecnologia e a que encerra o disco, The Weight Of Dreams, são quase epopéias com viradas, extensos solos de guitarra e vocais parecendo atingir sua extensão máxima. Se a banda fosse algo que vivesse de imitações, talvez ela não se sustentasse depois de tanto experimentar, mas algo me diz que esse estilo amadurecido não vai desagradar os fãs.
As letras também falam sobre assuntos sérios. Nesses tempos de estrada, a banda saiu da pequena cidade de Frankenmuth e rodou o mundo, viu muitas coisas, conheceu muitas pessoas. Essas histórias viraram inspiração para as letras, especialmente Tears Of Rain, que fala sobre o desejo de superação do ser humano,a busca por salvação. E pasmem, o lugar do planeta que inspirou a música foi a cidade do Rio de Janeiro, no momento em que o Greta viu pela primeira vez a carência das comunidades cariocas.
As faixas Built By Nations e Stardust Chords remetem ao Rock e Blues onde a banda se alicerçou, embora Stardust Chords mostre um estilo mais pesado.O capricho nas escalas vocais cantadas por Josh e a longa duração das faixas não permitem que elas mantenham-se só na estrutura “verso- refrão -verso”. Enfim, podemos explorar toda a capacidade sonora da banda como um todo e não apenas prestar atenção no vocal para comparar se continua parecido com o Robert Plant, o porquê disso e etc...
Mas como tudo tem dois lados, não pude deixar de sentir que The Battle... é um disco um pouco arrastado, repleto de músicas longas, com muita viagem, podendo fazer surgir novas comparações, agora com o Rock Progressivo, principalmente na faixa The Barbarians e Light My Love, me deixando a sensação de que o final do disco é mais difícil de ouvir. E entre essas duas faixas bem melódicas e longas, Trip The Light Fantastic até traz uma suavidade peculiar, em um refrão que é muito característico das raízes da banda, com baixo, guitarra e bateria fazendo a base rock para a melodia vocal, sendo uma das faixas mais fáceis de ser lembrada.
Talvez o álbum seja mais simples de compreendermos do que parece. Ele é uma junção de Rock Puro com Blues e essa pitada de Heavy Melódico.Talvez minha visão crítica e analítica queira explicar e classificar tudo (daí a necessidade de escrever resenhas) ao invés de apenas apreciar o que é para ser apreciado. Talvez essa ideia de abstrair mais e raciocinar menos seja uma chave para entender por que a banda agrada tanto o público mais jovem quanto os mais velhos e nostálgicos fãs de Rock. Ambos os grupos compartilham da magia de ouvir música e deixar se levar pelas sensações. Se você está lendo hoje essa resenha é porque já experimentou essa magia também. E se for verdade que o Rock morreu ou envelheceu demais, essa pode ser a turma que vai salvá-lo ou ressuscitá-lo, que vai escrever uma nova história. E a missão do Greta Van Fleet é escrever o prólogo.
Destaques para: My Way Soon, Heart Above.Também para as letras de Age Of Machine e Tears of Rain e para o progressivo solo de guitarra em The Weight Of Dreams.