Por Anderson Nascimento
O novo álbum da banda carioca "O Rappa" foi o lançamento mais esperado do ano de 2003. Digo isso sem temer o rótulo "exagero", pois há quatro anos a banda que se consolidou como uma das mais importantes do cenário pop/rock nacional, lançando o disco "Lado B Lado A", estava sem lançar um disco somente de inéditas, daí finalmente eles quebram o silêncio e soltam o seu "esporro". E que esporro!
O Rappa se esquiva do fantasma da saída do Marcelo Yuka, principal letrista do grupo, e lança um de seus melhores discos. O ouvinte mais desavisado não vai sentir a falta de nada do velho Rappa, está tudo lá, a crítica social, a sonoridade carregada pela mistura de ritmos, a voz cada vez melhor do vocalista Falcão, e o "plus" que a gente está sempre procurando em uma banda.
E esse "plus" é que faz deste disco, um grande álbum. As letras agora absorvem idéias dos quatro integrantes, que assinam quase todas as composições, mantendo e, em muitas vezes, superando o padrão de qualidade das antigas, como podemos perceber nas músicas "Reza a Vela" e "O novo já nasce velho".
As músicas mostram-se parte de um todo, que vão se completando ao longo do disco, o que torna a obra ainda mais interessante. Essa integração entre as faixas são em muitos momentos, intercaladas por vinhetas super bem feitas, com direito, em duas delas, a uma homenagem à Waly Salomão, falecido à pouco.
Citar destaques neste disco é uma dura missão, se levarmos em consideração a unidade e equilíbrio do trabalho. Mas podemos destacar um pouco mais a faixa "O Salto", que apresenta pela primeira vez na obra do Rappa um complexo arranjo de cordas e cellos tornado a música um épico de tirar o fôlego. Lá pelo meio do disco "O Rappa" dá um tempo da pegada e canta uma tensa e deprimida canção sobre a violência nas vias expressas do Rio de Janeiro. Sem pudor algum, a banda abraça o samba mostrando que tem peito aberto e manda ver na parceria com Zeca Pagodinho no samba "Maneiras". O grupo também foi muito feliz na recriação do clássico de Chico Buarque "Deus lhe pague" que ganhou um novo arranjo que a vestiu com o estilo da banda e encerra o disco de uma maneira que contraria o seu início, desta vez, ao invés da esperança, a banda soa realista, com o cover de Chico que representa o nosso futuro em um país cada vez mais cheio de injustiças sociais, violência e difícil de se viver.
O disco do Rappa ensina que uma banda pode carregar uma bandeira sem se repetir e que pode agitar esta mesma bandeira com louvor. Compre!