Por Valdir Junior
Nara Leão foi de musa da Bossa Nova, passando pela fase de cantora de protesto, simpatizante das atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE e uma das primeiras cantoras a aderir ao Tropicalismo de Caetano e Gil, ela canta "Lindoneia" no disco manifesto“Tropicália ou Panis et Circensis”, até se estabelecer como uma das grandes cantoras e interpretes brasileiras.
Com mais de vinte álbuns gravados em sua carreira, Nara nunca havia lançado um disco ao vivo só seu, seja por circunstâncias adversas ou mesmo por certa timidez ao palco, que um registro ao vivo sempre foi adiado. Mas esse lapso histórico é remediado agora com o Box “Nara Leão – Ao Vivo Anos 60/70/80”, uma caixa com quatro CDs, lançamento do selo Discobertas que cobre quatro shows da cantora e mostram uma artista segura, cativante, cantando e tocando seu violão maravilhosamente bem.
Fruto de um grande e excepcional trabalho de pesquisa, organização e restauração do produtor Marcelo Fróes, que vem com seu selo Discobertas resgatando a memória da música brasileira em registros cada vez mais caprichados e de alta qualidade, “Nara Leão – Ao Vivo Anos 60/70/80” é um espetáculo de bom gosto e de uma qualidade sonora inacreditável, que faz parecer que Nara está bem à nossa frente cantando, sendo um deleite escutar os quatro shows, um de 1965 gravado em São Paulo, dois dos anos 70, um em 1972 e outro em 1978, ambos gravados no Rio de Janeiro, além de um em 1985 de um show em Belo Horizonte.
Os quatro CDs, e shows, estão repletos de sucessos que vão de clássicos da Bossa Nova como “Desafinado”, “Samba de Uma Nota Só”, “Você e Eu”, “Só em teus braços”, “Este seu olhar”; passando por Sambas como “Nega Dina”, “Acender as velas” e composições de Caetano, “Tigresa”, “Cidade Pequenina”, esta em parceria com Roberto Menescal; Chico Buarque, “Soneto” e “Quando o carnaval chegar”; Gilberto Gil “O Seu Amor" e Luiz Melodia, “Onde o Sol Bate e Se Firma”, entre outros clássicos da música brasileira.
Ouvir o Box “Nara Leão–Ao Vivo Anos 60/70/80”, nos traz a princípio dois sentimentos antagônicos, um de alegria, por ouvir Nara em apresentações únicas e históricas; e outra de tristeza e saudade dessa maravilhosa cantora, falecida em junho de 1989, que faz muita falta na música brasileira. Nara merece, e deve ser redescoberta pelas novas gerações e esse Box da Discobertas, além de seu valor histórico, deve ser como porta de entrada para se conhecer a música e a interpretação de Nara Leão.