Resenha do Cd Your Song / Paulinho Loureiro

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YOUR SONG
PAULINHO LOUREIRO
2002

SONY MUSIC
Por Marco Aureh

Um bom time começa com um bom goleiro - e um bom disco, com um bom repertório. Paulinho Loureiro soube disso quando escolheu as pérolas musicais que iriam brilhar em seu primeiro CD solo, “Your Song”. Lançado pela Sony Music, em 2003, o álbum vai de Steve Wonder aos Beatles, passando por Elton John, Michael Jackson, Black Sabath, Peter Gabriel, Jimi Hendrix, Rolling Stones, James Taylor e Phill Collins. E se o elenco de compositores e o repertório são ecléticos, a escolha da sonoridade, não. Com textura simples, porém não simplista, o piano bem tocado por Paulo Calasans (que também assina os arranjos) é a base instrumental que acompanha a versátil voz de Loureiro. Em alguns momentos, o piano acústico é substituído pelo elétrico e também é possível ouvir o sequenciamento de tons de teclado e de percussões eletrônicas, todos modestamente colocados, pois a voz é que aparece sempre em destaque. O seu timbre com emissão predominantemente nasal cai como uma luva nas canções românticas escolhidas; alguns fonoaudiólogos consideram que esta região, que é ligada ao choro (do verbo chorar e não do ritmo), está intimamente relacionada com o nosso lado mais emocional e mais sensível. Some-se ao alcance de sua voz que vai do médio grave aos superagudos e ainda emite falsetes límpidos quando necessário. Conclusão: apesar da gama variada de canções e de compositores envolvidos, o resultado é uma sonoridade homogênea do início ao fim.

O álbum é aberto por “Tiny Dancer” (Elton John / Bernie Talpin). Um piano forte faz a introdução para, em seguida, a voz de Paulinho exibir uma bela interpretação. Os agudos (brilhantemente afinados) emitidos em cada refrão já anunciam a qualidade sonora que virá pela frente.

A maioria dos arranjos do disco bebeu da fonte das gravações originais de cada uma das canções clássicas regravadas. Essas sutis menções, de certa forma, soam bem aos nossos ouvidos, à medida que instintivamente gostamos de ouvir o que já tem referência em nossa memória musical.

“The long and winding road”, de Lennon e McCartney, impressiona pela simplicidade que desnuda a canção para revela-la em sua essência. Toda vez que ouço este disco e passo por essa faixa, me sinto honrado por ter indicado esta música ao Paulo quando ele ainda preparava o repertório e me perguntou: “Se você fosse escolher uma música suave, das que mais gosta, qual seria?”

“Human nature”, não foge muito da característica gravação soul dance de Michael Jackson, exceto pela suavidade dos arranjos de base e da interpretação vocal.

“Changes”, do Black Sabath é a canção mais simples e, aos meus ouvidos, a mais bela interpretação do álbum. O formato instrumental é bem próximo do original cantado por Ozzy Osborne. Em andamento bastante lento (bem de acordo a esta música que aborda uma dor profunda: “Agora todos os meus dias estão cheios de lágrimas”, diz um trecho da letra), o artista com seu peculiar feeling interpretativo, imprime uma sutil dinâmica, passeando pela emissão suave até atingir um clímax intenso no refrão que traz uma gota de esperança: “Eu estou passando por mudanças”.

A faixa título é, simplesmente, uma das mais lindas baladas já compostas. O autor desta pérola, não poderia ser outro, se não, Elton John, o “cara” das baladas. A inspirada letra é de Bernie Taupin - que a escreveu com apenas 16 anos. (“Eu não tenho muito dinheiro / (...) Meu presente é minha música e esta é pra você”). Em “Your song”, Loureiro derrama todo o seu sentimento e sua versatilidade vocal.

Em algumas músicas, o volume do piano me soa baixo, principalmente naquelas onde o “metal” da voz de Paulo aparece com um ímpeto que exige maior suporte. O mesmo ocorre com a flauta (executada por Rodrigo D’Avila) que nos faz aguçar os ouvidos para melhor ouvi-la na faixa “In your Yes” – a flauta é um instrumento melódico de característica solista, portanto, como tal, merece destaque (exceto quando estiver em contexto harmônico).

Ainda como músicos convidados, temos Carlos Bala (bateria em “Overjoyed”) e Torquato Mariano com solos de guitarra que voam alto em “Litle Wing”.

A capa do CD (arte de Daniela Conolly) exibe uma bela montagem onde vemos, sob um fundo azul e cinza, num dos extremos, uma foto do cantor em perfil e, do outro lado, o instrumento que o acompanha: um piano. A contracapa, além da lista com as 13 músicas, mostra o artista sentado numa cadeira virada ao contrário, e aos seus pés, um tapete em teclas de piano. As informações do encarte apresentam as letras de todas as faixas e um generoso agradecimento de Paulo a vários amigos. Em que pese a beleza das imagens colocadas neste encarte, dividido em quatro lâminas, a ausência de contraste entre os cores de fundo e as letras em vermelho escuro praticamente impossibilitam a leitura, com exceção de uma das partes que contém um fundo branco; esses detalhes, entretanto, não comprometem o conteúdo e a beleza da obra como um todo.

Embora não tenha vencido quando recentemente disputou uma competição de cantores numa grande emissora de TV - concursos são assim, normalmente, nos surpreendem -, Paulo é, sem dúvida, um The Voice Brasil; “Your Song” nos comprova isso, de forma bela, intensa e eclética.

Resenha Publicada em 11/08/2015





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