Por Anderson Nascimento
Filha do mestre João Bosco, Julia debuta com “Tempo”, disco que a cantora e compositora arquitetou devagar e com um esmero impressionante. Rico em melodias que vão do Pop ao Soul, acaba sendo tarefa complicada classificar o estilo da cantora, mas ouvindo o disco, pode-se concluir que o seu som é universal.
Com tons jazzísticos, a cantora abre seus trabalhos com a ousada “Desavisados”, que também tem o Soul como cama para a provocante letra, dela e do marido Fabio Santanna, que divide com ela boa parte das composições do álbum.
Não demora para que o balanço de canções como “Curtição”, com a ilustre participação de Marcos Valle, tome conta do álbum. No caso dessa faixa, temos inclusive um potencial hit para que se encaixaria perfeitamente como trilha sonora de uma boa noitada.
Falando em participação especial, o próprio João Bosco dá as caras em “Oração”, faixa onde seu pai empresta a sua brilhante performance ao violão à faixa que também conta com a participação vocal de Fabio Santanna.
O disco segue tecendo deliciosos balanços como “Confusão” - que faz uma espécie de citação à “Rapte-me Camaleoa” do Caetano Veloso -, “Mutantes” e “Tudo Bem”, que, no caso das duas últimas, contam novamente com a adição do vocal Soul de Fabio Santanna.
Em “Mesmo Princípio”, canção mais Pop do álbum, temos uma faixa que remete aos anos setenta, mas que segue adicionando uma roupagem moderna. Alheia às inevitáveis presenças das referências musicais cotidianas, a canção é uma deliciosa declaração de amor que, de longe, transforma essa faixa na melhor canção do disco.
“Play a Fool”, novamente um momento jazzístico do disco, é outro destaque e, junto com “Angel”, canção de maravilhosa leveza pop, formam a dupla de canções em língua bretã do álbum.
As boas letras de canções como “Tudo Sempre” e “Dia Santo”, que introduz um pouco da cultura afro-brasileira em sua composição e também em sua percussão, fazem desse álbum uma refeição completa, temperada com bom gosto de pessoas que certamente sabem o que estão fazendo.
A balada “Tempo”, que dá nome ao disco e, merecidamente, fecha muito bem o álbum, destaca o talento vocal da cantora, que chega a lembrar a cantora Norah Jones em alguns momentos do álbum, não só pelo estilo, mas também pela forma simples e eficiente de cantar.
“Tempo” é um trabalho de muito bom gosto, que consegue abrir caminho para uma carreira que se mostra promissora, ainda que este seja ainda o primeiro trabalho da cantora.