Por Anderson Nascimento
É sempre muito bom colocar um álbum de inéditas dos Autoramas pra tocar. Esse prazer que já cheira à nostalgia demorou quatro anos para se repetir, isso levando em consideração o álbum “Teletransporte”, último de inéditas.
É sempre uma celebração ouvir som novo dos Autoramas. A cada novo disco, eu atesto como uma nova vitória, isto porque a banda conseguiu, mesmo com os seus já incríveis quatorze anos, se manter autêntica, incorruptível e competente. São anos no underground fazendo a felicidade de todos aqueles que curtem o saboroso “Rock pra Dançar”, temperado com Surf Rock, Jovem Guarda, Punk e New Wave.
“Música Crocante” explora de forma ainda mais veemente o instrumental como atração principal, como nenhum outro álbum da banda o fez com tanta profunidade. Claro que o instrumental sempre foi marca registrada da banda, mas nesse novo disco ele é o elemento mais ressonante, isso talvez se justifique pela belíssima produção do álbum capitaneada por Gabriel Zander.
Apesar do nome “Autoramas” já estar associado a um perfil sonoro que vem logo à cabeça quando pensamos na banda, a faixa de abertura do álbum “Verdade Absoluta”, dá sinais de uma maior produção sonora, muito disso pelo genial e característico órgão do Humberto Barros, que também participa de “Abstrai”, onde a banda dá um show em todos os quesitos, principalmente guitarra e arranjo vocal.
“Tudo Bem” é um petardo que já entra diretamente na galeria dos maiores feitos da banda, singela, a faixa tem uma melodia marcante, além de grande interpretação vocal do Gabriel Thomaz.
Bacalhau também dá um show a parte, principalmente em músicas como “Máquina”, feita em parceria com a banda uruguaia The Supersónicos. A outra parceria é com o jornalista radialista argentino Maxi Martina, na canção “Verdugo”, cantada em espanhol.
Impressionante também é “Lugar Errado”, composição da baixista Flavinha, que incrivelmente lembra os Mutantes. Flávia Couri, aliás, está mais marcante nesse álbum, incluindo o seu baixo de vez na sonoridade Ultra Power da banda e atacando também como cantora e compositora na boa faixa “Superficial”.
As faixas instrumentais, claro, estão mais que presentes aqui, representadas por “Guitarrada II”, que volta de onde a banda parou no álbum anterior, a melancólica “Luana Lopez”, além das bônus “Billy Hates Sayonara” e “Blue Monday”, do New Order, única cover do disco.
Com “Música Crocante” os Autoramas seguem alinhados em sua sonoridade ímpar, que mistura vários estilos musicais, incrementados sempre com a sua crocância habitual.