Por Anderson Nascimento
Após dominar o país e vender mais de trezentas mil cópias de seu primeiro álbum, que continha hits como “Primavera”, “Quem Sabe” e, claro, “Anna Júlia”, os Los Hermanos se exilaram em um sítio na região serrana do Rio de Janeiro para produzir um novo álbum que sucederia o seu disco de estreia.
O primeiro álbum foi composto de uma mistura entre Hardcore, Samba, Marchinhas e Ska, o que pouca gente cita nos dias de hoje, dada a exposição dos singles de viés popular. Ao longo da gravação de “Bloco do Eu Sozinho” a banda ignorou a pressão da gravadora por novos sucessos no quilate de “Anna Julia” e “Primavera”, e resolveu intensificar esforços e investir no lado mais anti-comercial do primeiro disco.
A idéia central e a forma como a gravação do novo disco caminhava deixaram marcas na banda logo no início da empreitada, o baixista Patrick Laplan deixou a banda alegando diferenças musicais. Para piorar a situação o disco foi entregue à gravadora e prontamente recusado, pois a gravadora alegou que a gravação do CD não satisfazia os padrões da mesma, além do fato de o trabalho não possuir hits em potencial.
O produtor Marcelo Sussekind foi escalado para remixar e reproduzir o álbum, a banda, obviamente, não gostou nadinha da exigência da gravadora. Por outro lado, o produtor gostou do álbum e, segundo reza a lenda, pouco alterou a versão original.
Apesar de elogiado pelos críticos, o álbum foi um fracasso de vendas. Com trinta e cinco mil álbuns vendidos (naquela época isso era considerado um fracasso) o disco não teve muito apoio da Abril Music, gravadora da banda até então, o que dificultou as suas vendas.
O álbum é carregado de Marchinhas de Carnaval, Sambas, e repleto de melancolia. Dessa forma, mesmo as canções ditas como mais populares do álbum, caso de “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, primeiro single do álbum, é carregada de um clima que beira a tristeza por entre seus versos.
Ao conjunto de belas canções do álbum se junta a magnífica “Sentimental” de versos simples, porém, aliados à melodia, de uma profundidade impressionante, além de “A Flor”, ambas com vocal marcante de Rodrigo Amarante. Da mesma forma, Marcelo Camelo também se sai bem na nada convencional “Deixa Estar” e em “Fingi na Hora Rir”, outro grande momento do álbum.
Em meio a uma conjunção de instrumentos como bumbo, tarol e metais dos mais diversos, o Hardcore do primeiro álbum está representado por “Tão Sozinho” faixa que destoa do contexto e do trabalho de uma forma geral, mas que remete a uma banda em início de carreira.
“Bloco do Eu Sozinho” foi um álbum que, se por um lado fechou algumas portas para a banda, por outro ajudou a criar uma impressionante legião de fãs, apaixonados e defensores do estilo reservado e alternativo do grupo, e, além de tudo, cravou mais um álbum na já rica discoteca básica da música brasileira.