Por Anderson Nascimento
Ainda que plenamente validada pelos fãs do Maluco Beleza, a carreira discográfica de Raul Seixas é dotada de altos e baixos, indo de discos clássicos como “Gita” (1974) à álbuns quase que obscuros como “Mata Virgem” (1978).
Em seu segundo lançamento nos anos 80, a voz de Raul já dava sinais de desgaste, revelando que a pegada da década anterior já não era a mesma, parte disso por conta de um estado de saúde debilitado em consequência da pancreatite que acometera o artista desde 1978, quando teve que retirar parte do pâncreas, contudo Raulzito conseguiu fazer um álbum digno de sua história, que rapidamente se tornou um disco queridíssimo pelos fãs.
O disco foi gravado durante o período de três anos em que Raul se encontrava sem gravadora, pois havia deixado a CBS, por onde lançou o bom álbum “Abre-te Sésamo” em 1980. O convite do diretor artístico da Eldorado levou Raul de volta aos estúdios para lançar este álbum que rapidamente caiu nas graças do público e que deu ao artista mais um disco de ouro.
O álbum era uma mistura de ritmos da forma como Raul gostava de preparar, ou seja, o encontro da música regional brasileira com o Rock americano. Este Rock está representado basicamente pelas versões de “Bop-a-Lena” de Gene Vicent e “Slipin and Slidin” de Little Richard, vertidas aqui em “Bablina” e na ideológica “Não Fosse o Cabral”. Somando-se a elas o Rock “DDI (Discagem Direta Interestelar)”, composta pelo próprio Raul e por então esposa Kika Seixas.
Impressiona a beleza de canções como “Coisas do Coração”, “Lua Cheia” e “Aquela Coisa”, que retratam o belo momento pessoal e familiar que Raulzito passava com Kika e a filha do casal Vivian. Assim como os ideais quase místicas de canções como “Segredo da Luz” ou a ode à natureza descrita na canção “Coração Noturno”.
O enxerto de música regional usualmente feito por Raul em seus álbuns, está presente aqui no dueto feito com a cantora Wanderléa no forró “Quero Mais”, resultando em uma divertida simulação de um lascivo duelo entre marido e mulher. Também com essa forte tendência está o baião “Capim Guiné”, uma das músicas mais legais do álbum.
Mesmo contendo muitas canções interessantes do repertório do nosso roqueiro, o grande sucesso mesmo desse álbum é “Carimbador Maluco”, gravado por Raul para o especial homônimo produzido pela Rede Globo. O interessante é que a música não consta nas primeiras prensagens do álbum, porque ela foi gravada depois, mesmo assim, os fãs costumam a se referirem ao álbum até hoje como “Carimbador Maluco”.
“So Glad Youre Mine”, canção de Arthur Big Boy Crudup que encerra o álbum, foi gravada em show realizado em 26 de fevereiro de 1983, para que a partir deste fosse retirada uma música que completaria o disco. No ano seguinte a gravadora Eldorado lançaria a gravação na íntegra, no disco “Raul Seixas Único e Exclusivo”, onde Raul interpreta vários clássicos do Rock.
Após o lançamento desse álbum, Raul Seixas trocou novamente de gravadora, indo para a Som Livre, onde gravou em 1984 o disco “Metrô Linha 743”, mas o legado na Eldorado já havia sido deixado, e o álbum “Raul Seixas” permanece como um dos mais queridos dos fãs até hoje.