Por Anderson Nascimento
Quem acompanha carreira solo de Rodrigo Santos, baixista do Barão Vermelho, iniciada em 2007 com o disco “Um Pouco Mais de Calma” e sucedido por “O Diário do Homem Invisível”, logo vai notar o caráter especial desse disco. Com repertório tradicionalmente autoral, desta vez o artista rende-se aos seus ídolos para produzir este álbum, recém lançado pelo selo Discobertas, de regravações em inglês.
Poderia ser só mais um álbum de regravações, mas o grande lance desse disco é o fato de Rodrigo mesclar canções mais conhecidas do público como a faixa dos Rolling Stones que dá nome ao disco “Waiting On A Friend”, que já está tocando nas rádios, com canções menos badaladas de artistas como John Lennon, Paul McCartney e Caetano Veloso.
Ao regravar, por exemplo, “Life Begin at 40”, canção escrita por John Lennon para ser gravada por Ringo Starr, o que acabou não acontecendo devido a brusca saída de cena de John, Rodrigo Santos capturou a essência original desejada por Lennon, gravada apenas em versão demo. A inclusão de efeitos, que chegam a remeter à canção “I´m The Greatest”, presenteada à Ringo pelo mesmo Lennon em 1973, é uma boa oportunidade de imaginar como ficaria a canção se Ringo a tivesse gravado.
O mesmo ocorre na versão de “Did We Meet Somewhere Before”, gravada por Paul McCartney em 1977 para a trilha sonora de um filme, mas que nunca ganhou uma versão oficial de McCartney. Essa canção em especial chega a lembrar as próprias inspiradas interpretações de Macca nos idos dos anos setentas, sendo neste disco uma das canções mais legais.
Já regravação de “Just For Today”, uma das mais belas faixas do álbum “Cloud Nine” de George Harrison, ganha um sotaque épico ao incorporar a voz de Zé Ramalho nos densos versos da canção.
Entre as canções mais conhecidas do público estão também “Stay” do U2, e a linda versão de “Positively 4th Street” de Bob Dylan que abre o disco de forma brilhante, bem como “I´ts Good To Be Alive” de Gilberto Gil, aqui com um tratamento pop que a transforma em mais um dos destaques do álbum. O outro artista brasileiro gravado no álbum, Caetano Veloso, ganha a minuciosa releitura de “You Don´t Know Me” do maravilhoso álbum “Transa” de 1972.
Toda a garra e vontade de não apenas cantar, mas encantar, pode ser percebida em canções como “Don´t Let Me Cry”, pra quem não conhece, canção do repertório de Fábio Júnior fase “Mark Davis”, aqui destacando-se como a melhor faixa do disco. A forma como Rodrigo Santos abraçou este disco, que inicialmente era considerado apenas como um projeto especial, acabou elevando o status do álbum, tornando-o o seu legítimo terceiro álbum solo.
Vale muito a sensação provocada por esse álbum na maior parte das dez canções (onze se contarmos a segunda versão de Helpless de Neil Young que aparece listada como bônus), que unem bons arranjos e instrumentais caprichados., além das participações mais que especiais de Roberto Frejat, Isabella Taviani e do próprio Zé Ramalho.
A sensação se expande à arte do álbum, com ilustração inspirada na capa do disco “Comes a Time” de Neil Young, ao caprichado encarte com as letras das músicas e o bom gosto musical do repertório. Essa é a experiência que valida o nosso hábito de continuar comprando discos e fazer disso uma indescritível sensação.