Por Thais Sechetin
Antes de começar a resenha do novo álbum do Foo Fighters, tenho uma pergunta ao leitor: O que é música dançante? Seria o rótulo dado a estilos como Eletrônico,Soul e Funk ou seria toda música que nos tira do estado de inércia e faz o corpo mover-se por completo, independente do estilo?
Parece que ao falar sobre o 10º trabalho do Foo Fighters, o animado “Medicine At Midnight",o vocalista Dave Grohl e o baixista Nate Mendel não defendem os mesmos argumentos: Enquanto Dave declarou em entrevista que o público merece algo pra se animar, dançar e que o Rock também tem esse poder, Nate simplesmente diz que o disco é formado por uma base Rock característica do Foo Fighters com elementos experimentais, evitando o termo “dançante”.
O recém trabalho da banda lançado em 05 de fevereiro recebeu críticas construtivas, foi definido por muitos como “animado”, "agitado”, “otimista” e “dançante”, algo diferente do que estamos acostumados a ouvir com o Foo Fighters. Mas para tudo há explicação: trata-se de um álbum que comemoraria o décimo trabalho da banda e seus 25 anos de carreira, seria lançado em 2020 com direito a uma mega turnê, shows de arena por todos os lugares e um clima de celebração ainda mais especial do que Dave Grohl já faz com maestria.
Pensando então no clima de celebração que a banda já alimentava em 2019, eles alugaram uma casa na Califórnia e começaram a gravar, de forma diferente,sem ensaios, estruturando as músicas praticamente enquanto gravavam. Outra particularidade sobre “Medicine At Midnight” foi a volta do produtor Greg Kurstin, que produziu o álbum anterior (“Concrete And Gold”, de 2017) e,desta vez a banda permitiu que ele trabalhasse sua criatividade, o que pode ter resultado no “ar pop” tão comentado.
Ao ouvir a faixa de abertura “Making A Fire”, encontramos um ritmo bem animado logo na introdução, seguido de um coro feminino também animado composto por “na na nás”.Como eu gosto de imaginar uma abertura de show cada vez que ouço um disco novo,já a elegi como música perfeita para abrir espetáculos. A faixa também conta com os vocais de apoio de Violet, filha de Dave Grohl.
A faixa seguinte é “Shame Shame”, o primeiro single do álbum, e seu instrumental nos dá sutis percepções de músicas Pop e Rock dos anos 80, se prestarmos bastante atenção. Mas aí chega o refrão e a gente já direciona todos os nossos sentidos e memória afetiva ao Foo Fighters das décadas de 2000 e 2010. Já “Cloudspotter “ contém os vocais habituais de Grohl, com os gritos e tudo mais e, um pouco de peso misturado com ritmo que soa um pouco debochado (“despojado” para os menos diretos), sendo uma das músicas mais completas do álbum.
A faixa seguinte é “Waiting On A War”,o terceiro single lançado. Ela é parecida com “Best Of You”, de 2005. Composta por refrão, rimas e versos fáceis de colar na cabeça, é outra excelente opção de setlist para shows de arena. No final, a música ganha uma aceleração tão inesperada que nos leva a um estágio de empolgação muito alto,onde a música vira um trio de baixo/ bateria/guitarra de vibrações idênticas às da época de “The Colour And The Shape'', de 1997.
A faixa título é uma das que melhor mostra na parte instrumental as referências da banda para gravar o disco:muita batida Groove. Agora um pedido: Ao ouvirem a primeira frase de “Medicine At Midnight”,no momento em que Dave Grohl abaixa o tom de voz, gostaria de saber se apenas eu lembrei do Bono Vox. Ouvidos de gente maluca por música é assim mesmo, um pouco bagunçados...
“No Son Of Mine” é a mais pesada do disco e foi o segundo single lançado. A seleção de singles foi muito bem pensada, uma vez que cada um deles tem estilos diferentes, agradando a fãs de todos os espaços sonoros que o Foo Fighters já explorou. A letra é tão pesada quanto a música, retratando a hipocrisia. Já “Holding Poison” tem uma marcação de bateria diferente e um ritmo que também lembra sucessos das décadas de 80, antes de chegar ao refrão. E desta vez acredito que o responsável pelo feito é o teclado de Rami Jaffee.
"Chasing Birds” é a faixa mais simples e remete a Beatles, mas de acordo com Dave Grohl, é mais estilo Harrison do que McCartney. E “Love Dies Young” encerra o trabalho entregando mais guitarra pesada, afinal são os Foo Fighters! O vocal com as rimas de Dave fecha o disco confirmando a intenção de nos fazer “tirar o pé do chão" com outro refrão estilo hino de arena, somado a elementos rítmicos que demonstram o que há de mais moderno no Rock.
Mesmo depois de ouvir “Medicine…” até consegui desenhar todas as curvas do álbum em minha mente,mas não consegui confirmar se ele é um trabalho otimista de fato. A própria “Love Dies Young” que chegou a ser rotulada dessa forma não é assim tão pra cima, basta ler sua letra. Entretanto, trata-se sim de um disco onde a gente pode dançar, cantar refrão a plenos pulmões, sentir aquele calor no coração e um clima de festa. Ouvi o álbum buscando os elementos Pop e até os encontrei, mas depois concluí que na raiz sempre tratou-se do bom e velho Rock do Foo Fighters. Mas é um álbum para ouvir com a mente aberta.
Para finalizar a reflexão, penso se mesmo em um nível inconsciente nós concordamos com Dave Grohl, quando ele diz que toda música criativa e que nos toca tem o poder de nos colocar pra dançar. Penso se é verdade que por causa de tantos rótulos introjetados em nossa mente, só conseguimos definir música que nos faz dançar as que contém elementos eletrônicos e o Rock só pode ser Rock se tiver solo de guitarra ou baladas cheias de melodia. Afinal, bandas como Duran Duran, Tears For Fears, A - Ha e a própria fase “Let 's Dance” de David Bowie (uma das referências para “Medicine At Midnight") sempre andaram na linha tênue entre o Rock que faz dançar e o Pop de conteúdo.
Ainda hoje não rotulo tais trabalhos como Rock, Pop, Dance ou New Wave. Apenas sinto e me deixo levar por seus elementos sonoros como um todo, permitindo que antes mesmo dos meus pés tocarem e saírem do chão, a alma já esteja em festa.