Por Fabio Cavalcanti
O Hollywood Vampires é um supergrupo de hard rock estadunidense, capitaneado pelos renomados músicos Alice Cooper (vocalista) e Joe Perry (do Aerosmith, guitarrista), juntamente com o ator Johnny Depp (guitarrista). Seu primeiro álbum, lançado em 2015, foi um grande tributo colaborativo a artistas icônicos do rock – muitos já falecidos -, através de um apanhado de covers dos mesmos. Já no segundo álbum, “Rise” (2019), temos finalmente a faceta autoral dos “vampiros”, a qual traz resultados bastante satisfatórios...
Há um clima de morbidez cômica que permeia o trabalho, quase como uma suposta trilha sonora para um daqueles “filmes B” que nos deixam com um sorriso no rosto. E, como já era de se esperar, as letras possuem o habitual espírito teatral de Alice Cooper, seja ao girar em torno de algum alter ego pitoresco, ou na narrativa de situações mirabolantes.
A química entre os três líderes nem sempre se mostra tão harmoniosa, mas ainda nos garante canções inspiradas, como as arrepiantes e impositivas “Who's Laughing Now” e “New Threat”, a fantasmagórica “The Boogieman Surprise”, a quase bêbada “We Gotta Rise”, e o irreverente ‘rockabilly’ “Welcome to Bushwackers” (com um solo de guitarra bem bacana do Jeff Beck). Já “I Want My Now” se perde no seu paradoxo de ser uma canção boba e “épica” ao mesmo tempo, e a soturna balada “Mr. Spider” parece uma sobra de um dos discos conceituais de Cooper.
E para não esquecer totalmente daquele velho espírito de “homenagem”, o grupo fornece aqui três novos covers, sendo que o destaque positivo fica para a versão deliciosa e muito bem azeitada de “Heroes” (David Bowie). O destaque negativo fica para “You Can't Put Your Arms Around a Memory” (Johnny Thunders), em que Joe Perry canta como alguém que acabou de tomar rivotril.
No fim, “Rise” é um disco que, com o perdão do trocadilho, consegue elevar efetivamente o Hollywood Vampires para a sua própria identidade sonora. Ainda que essa banda não seja superior aos trampos principais de Alice Cooper e Joe Perry, pelo menos representa um “desvio” para um ambiente cheio de novas aventuras e confusões roqueiras. Se o Johnny Depp voltou a ser um garoto deslumbrado, por tocar guitarra ao lado dos seus heróis, nós também podemos embarcar nessa inocente viagem...