Por Valdir Junior
Chega a ser redundante falar sobre Buddy Guy, o “He Man” do blues, ídolo dos ídolos, o guitarrista que foi um dos últimos bluesman que conseguiu aprender os macetes, as técnicas e o verdadeiro blues direto dos grandes mestres, e por aí vai, mas tudo isso ganha um peso e uma verdade maior quando é dito, ou melhor, cantado e tocado, pelo próprio Buddy Guy, que na faixa título de último disco “Born To Play Guitar” canta com convicção “I got the blues running through my veins” (Eu tenho o blues correndo em minhas veias).
Desde os anos 1990, Buddy Guy vem lançando álbuns regularmente, todos eles se destacam pela iniciativa de Buddy de terem uma sonoridade de um blues contemporâneo, com sons e temas que fogem de serem meros clones de clássicos do passado, preservando o respeito por eles, mas deixando a chama do blues acessa com lenha nova.
E é com essa mesma intenção que “Born To Play Guitar”, lançado em julho de 2015, chega trazendo o som e guitarra de Buddy Guy. O disco tem um componente quase que autobiográfico e autorreferente, muito disso diante do momento em que Buddy vive no auge de sua maturidade, o guitarrista completou oitenta anos em julho de 2016, olha tanto para o passado como para o futuro e nos ensina, cantando e extraindo os sons mais verdadeiros de sua guitarra, como fazia seus antigos mestres, que devemos seguir em frente, não importa o que aconteça nesse mundo louco e cruel que vivemos.
Para fazer “Born To Play Guitar”, Buddy Guy chamou para a produção e ser seu parceiro nas músicas, Tom Hambridge, mega produtor, premiado com vários Grammys e que já trabalhou com gente como George Thorogood, Boston, Chuck Berry, BB King, Johnny Winter e Jony Lang. Hambridge também se encarregou da bateria em todas faixas de “Born To Play Guitar” e trouxe músicos chave para reforçar o som do álbum , como o guitarrista Doyle Bramhall II , fiel escudeiro de Eric Clapton, e Billy Cox (Jimi Hendrix) no baixo, além, é claro, de alguns convidados muito especiais como Billy Gibbons (ZZ Top), Van Morrison e Joss Stone.
Os guitarristas de plantão e amantes do blues, irão se fartar com quantidade de timbres, links, riffs que Buddy destila, alterando crueza e sons limpos, com sua guitarra nas 14 faixas do CD, fazendo que faixas como "Wear You Out" que traz Billy Gibbons dividindo a guitarra e o vocal com Buddy; e "Whiskey, Beer & Wine", "Turn Me Wild", "Crazy World" e a própria faixa título, virem desde já standards do gênero. Não se assuste se você se pegar fazendo uma air guitar enquanto escuta os endiabrados solos de guitarra de Buddy nas músicas.
“Born To Play Guitar” ganhou em 2016 o Grammy por Melhor álbum de Blues, e mesmo sem esse cobiçado prêmio dando seu aval de qualidade, pode ter certeza que este é um dos grandes álbuns do gênero dos últimos cinco anos e desde já um dos grandes discos de Buddy Guy em sua extensa discografia. Unindo experiência, espontaneidade, sons matadores de guitarra e um punhado de ótimas músicas, será muito difícil esse não ser também um dos seus discos preferidos dos últimos tempos.