Por Valdir Junior
No Rock e na música pop já feita até hoje no Brasil, são poucos os artistas que conseguiram ter dentro de sua trajetória musical, uma história tão rica, musicalmente criativa e que conseguisse resistir ao tempo, aos modismos e ser maior do que a própria vida, a música e a obra de Arnaldo Baptista fazem dele um membro desse restrito clube, com o mérito de ele ainda estar vivo, produzindo e rindo.
Sua trajetória, que só pode ser comparada a de ícones como Raul Seixas, Cazuza, Tim Maia, que como Arnaldo, viveram o céu e o inferno, e fizeram disso matéria-prima para sua música, é um exemplo da genialidade, sensibilidade e inconformidade dele para com um mundo careta e despreparado para entender sua obra. Obra essa que desde os Mutantes, até sua errática carreira solo, é de uma magistral e maravilhosa alegria, que mesmo nos momentos mais down, nos fazem ver a vida na sua simplicidade.
Da música dos mutantes, muito já se falou, artistas nacionais e internacionais vivem expressando sua admiração e enaltecendo a influência com que a música do trio original com Arnaldo, Rita Lee e Sergio Dias, exerceram sobre eles. Mas o trabalho solo de Arnaldo é pouco comentado, sendo mais lembrado e reverenciado por uma nova geração, bem antenada e inteligente, de músicos brasileiros. Muito disso é devido a dificuldade que os discos de Arnaldo tiveram nesses anos todos para serem encontrados pelo grande público.
Para sanar esse problema e colocar a obra do eterno mutante em evidência, chega às lojas pelo selo Canal 3, a caixa “Arnaldo Baptista – Edição Limitada”, com cinco álbuns solos de Arnaldo, que há muito tempo só eram encontrados com colecionadores e sebos especializados. São eles: “Loki?”de 1974; “Singin’ Alone” de 1982; “Let it Bed” de 2004, e os dois discos lançados junto com a Patrulha do Espaço, “Elo Perdido” e “ Hoje Faremos Uma Noitada Excelente” ambos de 1988.
O box de tiragem limitada de 1500 unidades, trás além dos discos remasterizados em embalagens digipack, algumas novidades, contextualizando melhor suas novas edições. Por exemplo, os dois discos gravados com a Patrulha do Espaço em meados da década de 70 e lançados pela Baratos Afins, eram inéditos em CD, agora voltam com novas capas, sendo que um deles “Elo Perdido” agora chamado “ Elo Perdido +” vem com cinco faixas bônus consideradas agora “Elo Mais que Perdido”, que dão uma unidade e uma urgência ainda maior para esse álbum roqueiro de Arnaldo, absolutamente imperdível.
O box nos dá um prazer renovado em reescutar, ou para os novos ouvintes, escutar pela primeira vez, a musicalidade e o lirismo típico de Arnaldo transbordar e percorrer caminhos não óbvios, em álbuns como “Loki?”,“Singin’ Alone” e “Let it Bed”, discos essências para se entender uma parte da música brasileira, e que também servem como bússolas confiáveis, indicando que caminhos percorrer a todos aqueles que querem e pretendem fazer uma música verdadeira, que une coração, mente e alma.
Infelizmente um álbum solo de Arnaldo, “Disco voador Arnaldo paz” lançado pela Baratos Afins em 1987 e também inédito em CD, ficou de fora dessa caixa, o álbum em si é um registro caseiro e tosco, mas de alto valor documental, de musicas experimentais, faz falta para os completistas, mas não atrapalha a audição e degustação do box como um todo.
No momento Arnaldo Baptista vem gravando, num tempo que é só seu, um novo álbum, que não tem previsão de quando vai sair, nos deixando curiosos com o que ele está fazendo e compondo, mas com o lançamento agora desse box “Arnaldo Baptista – Edição Limitada”, teremos que ter tempo e atenção para escutar e nos deliciarmos, faixa a faixa, disco a disco até lá. A obra e a música de Arnaldo deve ser ouvida com coração, alma e mentes abertas, para podermos entender e apreciar a verdade e a visão de vida e mundo de um gênio, sem pressa e sem concessões. Arnaldo Baptista é “O Cara”, não perca tempo aprecie sem moderação.