Por Valdir Junior
Quarto álbum solo de David Gilmour, “Rattle The Lock”, chega quase um ano após Guilmour e Nick Mason, lançarem “The Endless River”, o último e final álbum do Pink Floyd, usando músicas inacabadas de Richard Wright. Conhecido pelo seu bom gosto musical, e dono de um timbre de guitarra que se reconhece já na primeira nota tocada, Gilmour despeja nesse novo álbum solo quase uma síntese de seu trabalho até agora.
Depois do excelente “On an Island” e da final da turnê desse álbum, registrada no ótimo “Live in Gdańsk”, Gilmour passou os últimos cinco anos compondo as músicas de “Rattle That Lock”, as letras ficaram a cargo de sua esposa a escritora Polly Samson, com quem vem compondo desde o álbum “The Division Bell” (1994) do Pink Floyd. Produzido em parceria com o ex-Roxy Music Phil Manzanera, o álbum traz também a participação de David Crosby, Graham Nash e Jools Holland.
“Rattle That Lock” é um álbum que leva o ouvinte a uma escuta mais reflexiva, menos escapista, apesar de possuir todos os ingredientes musicais esperados de um disco de David Gilmour, as letras e o arranjo das músicas são mais diretos, com temas que se desenvolvem como uma pequena opereta e deixam o álbum com uma cara mais pop. O som da guitarra de David, pontuam delicados detalhes das músicas, ressaltando os momentos de emoção e introspecção que escutamos.
Abrindo o álbum com a delicada "5 A.M." faixa instrumental que como uma saudação de “bom dia” nos convida a participar da estória que David começa a nos contar. A faixa título “Rattle That Lock” é a mais comercial das faixas do álbum e tem um clima bem próximo do som do álbum “The Momenatry Lapson of Reason” do Pink Floyd. “Faces of Stone” é uma balada, bem ao estilo medieval, com arranjos inspirados, principalmente no solo de guitarra.
A bela "A Boat Lies Waiting" com seu som mais soturno, com destaque para o piano, traz um sampler da voz do saudoso Richard Wright antecedendo o canto quase que gregoriano de Gilmour, David Crosby e Graham Nash, numa tocante homenagem ao amigo falecido em 2008. "In Any Tongue" é a faixa que mais chega perto do som do Pink Floyd. "The Girl in the Yellow Dress" é uma música típica dos standarts dos anos 30, fica um pouco deslocada no álbum, mas prova que Gilmour sabe muito bem o que quer num disco só seu.
"Today" é outra faixa que remota ao som do Pink Floyd nos anos 90, com uma levada dançante que lembra um pouco o ritmo de “Another Brick in the Wall, Pt. 2”. Já a instrumental "And Then...", que fecha o álbum num clima de redenção, parece saída das sessões de gravações de “Endless Rivers”, com a guitarra de David iluminando o caminho com seus som celestial.
Como todo bom álbum, “Rattle That Lock” vai crescendo a cada audição, nos deixando maravilhados com detalhes, aqui e ali, que aos poucos vamos percebendo. Agora com o final em definitivo do Pink Floyd, David Gilmour pode seguir em frente fazendo o seu melhor, sem se preocupar se está ou não soando parecido com som da sua antiga banda, assim como seu amigo Paul McCartney já faz. “Rattle That Lock” é uma prova disso.