Por Valdir Junior
Desde que Lenine lançou em 1997 o excelente “O Dia em Que Faremos Contato”, seu nome e seu trabalho ficaram diretamente associados a uma música brasileira feita com qualidade e inquietação, música essa que procura trilhar novos caminhos, novas linguagens, sem renegar e esquecer o passado. Desde então ficamos na expectativa, na ansiedade de esperar por um novo trabalho desse pernambucano, pois em cada novo álbum, há um novo conceito, uma nova estória a se contar/cantar, como um menestrel.
Depois do excelente “Chão” (2011), Lenine rodou o mundo e o Brasil levando para os palcos o conceito de musica orgânica e quadrifônica do álbum. No final de 2014 ele sentiu a necessidade urgente de ter um novo álbum de inéditas, para cair na estrada com um novo espetáculo, para isso passou entre janeiro e março de 2015, gravando o material que conhecemos agora como “Carbono”, o oitavo álbum do compositor pernambucano.
Vale ressaltar que todas músicas surgiram só depois que o tema “carbono” foi escolhido por Lenine, ele um engenheiro químico formado, correlacionou as propriedades químicas do elemento carbono ao tipo de música que faz, e compôs cada música seguindo esse conceito. Composto e gravado em tempo recorde, “Carbono” é mais um passo à frente dentro da discografia de Lenine, o álbum está repleto de parcerias que endossam ainda mais a alquimia sonora de “Carbono”.
Produzido por Bruno Giorgi, filho de Lenine e responsável também pela produção do álbum anterior, JR Tostoi e o próprio Lenine, “Carbono” traz de volta os músicos Pantico Rocha (bateria) e Guila (baixo), para a banda de Lenine, e também a participação de Marcos Suzano na percussão em algumas faixas.
Desde a primeira faixa, "Castanho", que tem a participação do músico Ricardo Vignini, tocando viola dinâmica, cabacitara e slide, escutamos a cada faixa a mais pura clareza do som de cada instrumento, entrelaçados entre si, e a simbiose deles com a pura poesia das letras. Elementos de ritmos pernambucanos como maracatu, frevo e ciranda estão bem presentes em “Carbono”, um exemplo é a faixa “Cupim de Ferro”, música que Lenine compôs e gravou em parceria com a Nação Zumbi, um vibrante frevo com levada bem Rock and Roll.
O Som do violão de Lenine e sua respectiva “pegada” estão ainda mais elaborados e viscerais em “Carbono”, o que faz com que faixas como "O Impossível Vem pra Ficar", "A Causa e o Pó", "Quede Água?" e "Grafite Diamante", sejam deleites e fonte de inspiração para os amantes e aficionados das seis cordas. A linda e reflexiva balada "Simples Assim" é um dos grandes momentos do álbum e com certeza nos shows vai emocionar muito o público.
"Quem Leva a Vida Sou Eu" é quase um mantra, misturado no caldeirão rítmico de Lenine. "O Universo na Cabeça do Alfinete" e "À Meia Noite dos Tambores Silenciosos" são duas faixas onde a sonoridade e os arranjos fazem do que seria uma simples canção, peças musicais únicas e maravilhosas. A Instrumental “Undo”, fecha o álbum com o peso e urgência de uma coda que nos faz voltar ao início do álbum para escutar tudo novamente.
“Carbono” é por enquanto um dos melhores discos de música brasileira lançados até o momento. Com certeza vai figurar na lista dos melhores do ano, pois tem todos os méritos para isso. Lenine se difere dentro do panorama atual da musica brasileira justamente pela seriedade e pelo desejo inquieto de continuar produzindo uma discografia que seja relevante ontem, hoje e amanhã, e “Carbono” é mais uma prova disso.