Por Anderson Nascimento
Com inspirações que passam pelos afrosambas de Banden Powell e Vinícius de Moraes, Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda apresentam um disco repleto de bons momentos. De acordo com a apresentação impressa no invólucro do álbum, Bossa Negra é a miscigenação da música europeia com os ritmos dos escravos africanos.
A partir desse conceito, o álbum desfila canções inéditas como as ótimas “Bossa Negra” (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari, Diogo Nogueira), “Mais Um dia” (Hamilton de Holanda, Marcos Portinari, Diogo Nogueira, André Vasconcellos, Thiago da Serrinha), e clássicos da MPB como “Desde Que o Samba é Samba” (Caetano Veloso), música que vem sendo bastante executada nas rádios e que sintetiza os objetivos musicais do duo, e “Risque” (Ary Barroso), que ganha uma releitura repleta de melancolia.
O disco ainda nos reserva uma grande surpresa com a inclusão de “Salamandra”, música inédita de João Nogueira e Paulo César Pinheiro, que ganha arranjo com textura que remete a Sambas mais antigos, inclusive da própria carreira do pai do Diogo Nogueira.
Entre outros bons momentos estão “O que é Amor” (Arlindo Cruz, Maurição, Fred Camacho), samba já gravado por Arlindo e pela cantora Maria Rita, “Mundo Melhor” (Pixinguinha, Vinícius de Moraes) e a inspiradora “Tá” (Hamilton de Holanda, Tiago da Serrinha).
Na sua maior parte, o disco tem arranjos minimalistas, com domínio do bandolim de 10 cordas de Hamilton de Holanda, acompanhado pelo contrabaixo de André Vasconcellos, percussão de Thiago da Serrinha e a voz certeira de Diogo Nogueira. Em poucos momentos há canções com arranjos mais robustos, como acontece em “Brasil de Hoje” (Hamilton de Holanda, Arlindo Cruz, Marcos Portinari, Diogo Nogueira), canção adornado com palmas e coro infantil.
Curiosamente “Bossa Negra” ainda presta uma homenagem ao selo Elenco - reconhecido por lançamentos de discos de Bossa Nova – no design da capa de seu encarte, substituindo, porém, o tradicional preto e branco por preto e dourado.
De muito bom gosto, o álbum só não vai conseguir agradar aqueles que se incomodarem com o onipresente dedilhado de Hamilton de Holanda ao longo do disco. No mais, temos aqui um belíssimo trabalho, com ótimas composições e belas regravações.