Por Anderson Nascimento
Quando Paul McCartney declarou oficialmente o fim dos Beatles, no início de 1970, ninguém ficou tão p da vida quanto John Lennon. Restou então cada um seguir a sua vida em busca de uma inevitável e promissora carreira solo.
Paul se antecipou e lançou “McCartney” um disco caseiro, onde o mesmo toca todos os instrumentos e mistura músicas que estavam incompletas ainda da fase Beatles com passagens de som. George Harrison surpreendeu a todos e lançou um álbum triplo de inéditas, despejando todo o seu potencial podado pela dupla Lennon e McCartney. Ringo Starr só viria a lançar um álbum de Rock em 1973, pois com o fim dos Beatles o batera lançou um álbum com Standarts e outro de Blues, ambos em 1970.
Lennon, tido pela crítica como o Beatle mais áspero, revoltado, expôs a sua vida, suas mágoas e tudo mais que ele estava sentido com o fim da banda, logo no primeiro álbum solo. Tal atitude fez o mundo compreender que Lennon tinha algo a dizer sobre aquele momento complicadíssimo para todos, principalmente para os fãs. De certa forma o lançamento desse álbum fez com que as pessoas percebessem que por trás da imagem de um Lennon revoltado existia um cara extremamente dócil, humano e cheio de pontos fracos, como todo mundo.
John divaga sobre temas de tamanha profundeza que leva o ouvinte a engolir a seco em determinados momentos. O álbum é tão pessoal que em determinados momentos parece que estamos lendo um diário. Lennon abre o disco falando de sua infância e do abandono de seus pais, com a sentimental “Mother”. Da mesma forma que ele abre o álbum falando de sua mãe, ele também o encerra cantando uma demo emocionante, direta e seca, “My mummy´s dead”, onde lembra o trágico acidente que levou a sua mãe, fechando também o ciclo do disco.
É nesse estilo que o disco funciona, os temas são sempre sobre a sua vida pessoal, é o caso de “Isolation”, “Hold On”, “Remmember”, “Look at me”, “Working Class Hero”, até chegar em “God”, onde John claramente manda um recado para os amigos Beatles e diz ao mundo a famosa frase “O Sonho Acabou”.
Musicalmente o disco não deixa a desejar, trazendo ainda ecos do álbum branco, explorando a veia roqueira de Lennon, como nas pauleiras “Well, well, well” e “I find out”. Outro atrativo é a banda de amigos de longa data formada para tocar nesse álbum: Ringo na bateria, Klauss Voorman no baixo, além da participação de Billy Preston nos teclados. Mas no fundo têm-se a impressão de o do disco ser um grande ensaio que virou o álbum.
Após misturar tudo isso, incluindo também a interpretação emocionada e verdadeira, Lennon registrou o disco mais pessoal e dramático da história, fazendo com que as pessoas conhecessem enfim o mito John Lennon.