Por Pedro Martins
Sem delongas, o álbum de estréia de Caetano Veloso e Gal Costa é um bom disco, ainda que não constitua o embrião do projeto tropicalista, determinante na trajetória de ambos ao longo das décadas seguintes. Amarrado à estética da Bossa Nova, Domingo tem oito de suas doze faixas assinadas por Veloso, que também divide os vocais com Gal em vários momentos.
Os pontos fortes do álbum ficam por conta das composições de Caetano Veloso. “Coração Vagabundo”, “Avarandado” e “Remelexo” possuem belas harmonias e versos bem construídos. Enquanto as duas primeiras trazem um lirismo intimista, a última é uma bossa no melhor estilo joão-gilbertiano. Entre as interpretações de outros compositores, destaca-se o ótimo samba “Maria Joana”, de Sidney Miller, cantado por Gal Costa.
O que foi dito até aqui sobre as composições, vale também para as interpretações de Veloso e Gal: apesar da boa performance, ambos não exibem, aqui, o refinamento vocal que desenvolveram posteriormente. De qualquer forma, a estética bossanovista contribui para que as prováveis deficiências dos jovens cantores se neutralizem ou, para os mais entusiasmados, até adquiram um sabor especial no contexto do disco. Os bons arranjos de Dori Caymmi, Francis Hime e Roberto Menescal respondem pela qualidade geral do trabalho, pois permitem que as canções projetem seu potencial máximo. Do mesmo modo, o violão de Caetano Veloso já traz a simplicidade e o fino trato que lhe são peculiares.
Ao que parece, a iniciativa do pupilo em busca do aval de seu mestre provou-se bem sucedida. “Avarandado” não apenas figura no clássico “Álbum Branco” (1973) de João Gilberto como abriu caminho para numerosas parcerias entre o compositor e o intérprete ao longo dos anos. Além disso, “Coração Vagabundo”, também gravada pelo mestre da Bossa Nova, aparece sem surpresa nas apresentações de Caetano Veloso e Gal Costa após quatro décadas e dezenas de discos.