Por Anderson Nascimento
Para o deleite de todos aqueles que pesquisam ou simplesmente amam o Samba, o selo carioca Discobertas, em mais uma brilhante série de relançamentos, traz ao mercado fonográfico a obra completa do sambista Xangô da Mangueira.
Conhecido e reconhecido por essa alcunha, Olivério Ferreira fazia parte da direção de harmonia da Escola de Samba Mangueira, escola responsável por um estelar elenco de sambistas jamais visto como Nelson Sargento, Cartola, Nelson do Cavaquinho, Carlos Cachaça, Jamelão, e por aí vai.
Este primeiro disco, dos quatro relançamentos, desfila um punhado de Sambas classificados como Partido-Alto, marcados por improviso e pela sequência de repetição de refrões baseados em um determinado tema.
Ao ouvir o disco, chega a ser fácil recriar na imaginação os descontraídos momentos quando os sambas foram criados, um exemplo disso é “Moro na Roça”, onde Xangô ganha a companhia de Jorge Zagaia, que também participa de “Pequenininho” e “Diretor de Harmonia”, faixa de linda letra e melodia, onde versos vão se repetindo intercalados por pequenas estrofes que contam a história de cada Samba.
Ao longo do CD a alcunha de Rei do Partido Alto, que dá nome ao CD, vai se justificando, caso de “Quando Eu Vim de Minas”, canção de letra inteligente e com bela sacada do compositor em uma alusão que remonta a própria história do Brasil.
Canções como “Se o Pagode é Partido”, “Cheguei no Samba” e “Pequenininho”, destacam essa essência do álbum, com a arte do improviso e do bom gosto, levando aos mais novos a mirar a arte do Samba de Raiz.
“Que Samba é Esse” é outro momento de beleza ímpar. A canção dá uma geral no cenário do Samba da época, misturando nomes como Donga e Martinho do Vila na mesma cuia, o que além de caprichosa, tem a sua importância documental.
Despertado tardiamente para a gravação de discos, Xangô já estava na casa dos cinqüenta anos quando este primeiro trabalho foi gravado. Antes disso, o sambista havia sucedido Cartola, na direção de harmonia da escola de samba Mangueira, a qual foi intérprete até 1951, quando foi sucedido por Jamelão.
Inéditos em CD, esses relançamentos trazem de volta um importante período do Samba, quiçá da música popular brasileira.