Por Lucas Vieira
O fato de David Byrne ter literalmente feito Tom Zé levantar da tumba e acabar de vez com seus tempos de ostracismo, fez o cantor se reinventar. Mesmo quando canta canções de 30 anos atrás, o baiano de Irará, consegue torná-las inéditas, atingindo uma energia no palco semelhante ao que só o grupo britânico The Who conseguia- porém, mantém os instrumentos inteiros.
Com a produção impecável do eterno Titã Charles Gavin e a companhia de sua banda, que está há um bom tempo com ele, formada por Jarbas Mariz (vocais, viola, bandolim e percussão), Daniel Maia (guitarra, violão de nylon e vocais), Luanda (vocais), Cristina Carneiro (teclados e vocais), Lauro Lellis (bateria) e Renatinho Lellis (baixo e vocal), Tom Zé revisita sua carreira nas 25 faixas desse DVD totalmente inusitado, que recebe o título Pirulito da Ciência retirado de um verso da canção "Fliperama", inclusa neste DVD.
Sem novas músicas, esse registro mostra seu espetáculo recheado por suas explicações impressionantes de sempre, contando histórias de suas músicas e as tradicionais improvisações, como quando exige que a backin vocal Luanda repita os versos da terceira parte de "Augusta, Angélica e Consolação" sobre o argumento de aqueles foram os melhores versos que ele havia feito na vida.
Tom Zé abre o show com "Nave Maria", grande clássico, que segundo ele dissera em entrevista no programa do Jô, foi toda estruturada, juntando uma série de fatores. Tom Zé comenta sobre uma suposta briga que houve entre o forró e o rock, onde Tom Zé, junto de Odair Cabeça de Poeta escreveram um telegrama ao presidente americano, antes de tocar "Ui! (Você Inventa)" e seguir com "Companheiro Bush", com pitadas de folk e o início com o "Hino da Guerra". No fim da música Tom Zé ainda brinca com o público: "Com a coragem que vocês tiveram, eu acho que ele pra pensar em invadir vai pensar duas vezes!".
Depois de dar seu depoimento sobre a situação dos operários em "Classe Operária", Tom Zé diz que precisamos ter uma religião e fabulosamente apresenta "Ogodô, Ano 2000", cantando uma parte da música em português e em inglês, dizendo que precisa cantar em inglês se não lá eles colocam ele para fora.
Depois dessa parte política, Tom Zé começa a tocar canções de amor, começando por "Hein?", uma música bem ao estilo de festa junina. Das canções de amor ainda canta "Menina Jesus", que segundo ele era sua canção mais pedida e "Menina, Amanhã de Manhã", gravada por Mônica Salmaso e segundo os comentários do Tom Zé: "Se Mônica Salmaso gravou, está salvo.".
Tom Zé homenageia o jogador Neto em "Neto, Craque da Copa", iniciando a música, depois de um extenso depoimento, com uma narração de dar inveja no Galvão Bueno. Tom Zé, faz mais uma de suas provocações em "Meninas da USP e da GV", comentando sobre uma briga entre as alunas no estilo de um duelo de rimas.
Outra brincadeira interessante é "Cademar". Tom Zé diz que músico é um bicho desgraçado e às vezes gosta de enganar e começam a tocar a música, que termina em 40 segundos e diz: "Viu, como eu peguei todo mundo de calça curta? Ninguém podia pensar que era pequena assim...A arte é assim, minha gente!".
Tom Zé segue daí cantando clássicos como "Brigitte Bardot", a já citada "Augusta, Angélica e Consolação", uma interpretação bastante interessante de "São, São Paulo, Meu Amor", misturando o arranjo original com arranjo de rock, a controversa "Tô", quando ocorre uma pausa nos clássicos.
Tom Zé canta com sua banda o "Jingle do Disco", uma propaganda do seu disco, cantada em português e em inglês, onde ele comenta sobre a forma como os americanos o chamam: "Veja que analfabetismo fonético [...], "Tão Zí" é a mãe deles!". Tom Zé ainda toca "Jimmy Renda-se/Moeda Falsa" e termina com dois outros clássicos. "Todos Os Olhos" e a genial "Parque Industrial".