Gustavo Macacko, goiano de nascença, radicado no Rio de Janeiro, mas influenciado pelos costumes e culturas de vários cantos do Brasil, defende seu trabalho em “Despontando Para o Anonimato”, disco inteiramente armado com singularidade e poesia, ora explícita, ora incubada.
Sem perder tempo, o disco abra com a elegante “Hoje Sem Mim”, ótima abertura que, curiosamente, lembra trabalhos de artistas como Humberto Gessinger, Zeca Baleiro e Paulinho Moska.
“Montanha” abarca espectros provenientes dos anos setenta, ainda que sob a aura Los Hermânicas, fase “Ventura”, representando um pouco dessa poesia explícita citada no início do texto.
“Zé Berlim Carajás” é um épico multicultural de oito minutos, inventivo e sagaz – daquelas canções que nos inspira a decorar a letra e cantar junto com o artista – que ajuda a mostrar um pouco do estilo do cantor, principalmente para quem ainda está descobrindo o seu trabalho.
Conceitualmente o álbum é dividido em três partes, chamadas de trilogias, e seu lançamento se deu da mesma forma, ou seja, desde maio o artista foi lançando uma parte do álbum por mês, até chegar ao lançamento completo no mês de agosto.
O disco foi todo gravado em Vargem Grande, e produzido por Shilon Zygiel, que conseguiu introduzir no trabalho o resultado do isolamento que o artista promoveu para gravar as canções o mais próximo possível do que ele queria, longe dos vícios da cidade e concentrado na essência das canções.
A segunda trilogia do disco é repleta de referências a pessoas ligadas às várias nuances da arte, de figuras humanas às inanimadas, criadas pelo imaginário popular ou político. É assim a faixa “66”.
Quando chegamos à “Matemágicka” notamos que Gustavo vai espalhando suas características artísticas ao longo do disco. A proximidade ideológica com artistas que investiam em temáticas existenciais fica cada vez mais clara, já que encontramos um Silvio Britto aqui, e um Zé Rodrix ali, tudo isso banhado por um trabalho instrumental moderno e excitante.
Da mesma forma como ele brinca com as palavras e com nomes de pessoas, citados no decorrer do álbum, Gustavo batiza também as suas canções. Esse é o caso da brincadeira óbvia “Cada Fernando Uma Pessoa”, canção que ganha um peso incrível em seu desfecho, e agrega a participação do pernambucano Otto, em faixa que representa a primeira parceria entre os artistas.
A terceira e última parte da trilogia inicia com a nua “Com certeza de quem não sabe nada” e emenda com o dueto jazzístico “Mulher Independente”, faixa onde Gustavo divide o microfone com a ótima
Julia Bosco em canção que expõe as vicissitudes dos dias de hoje, em piadas de duplo sentido, e assertivas que não são tão engraçadas, mas verdadeiramente reais.
Fechando com “O Passado e o Escuro”, canção que (não me perguntem o porquê) tem levada sensivelmente tensa, Gustavo entrega um belo trabalho. Descrevo Gustavo como um trovador moderno, inteligente e antenado; seu trabalho certamente vai encontrar fãs por todo o país, principalmente porque, além do seu talento, claro, não encontramos artistas com esse tino estético todos os dias. Belíssima disco.