Por Valdir Junior
Em meados de 2017, a cantora Olivia Gênesi lançou seu mais novo trabalho, “Amor e Liberdade”, um álbum que dá continuidade ao seu primoroso trabalho e ainda desenvolve outras matizes sonoras em uma mistura de ritmos e estilos diversos como jazz, pop, folk, forró, baião, bossa nova/MPB e o rock. O nosso colaborador Valdir Junior bateu um papo com a artista que nos contou um pouco mais sobre a concepção de seu álbum e seus planos futuros. Confira!
GM: “Amor e Liberdade” é o seu décimo álbum e o sétimo como solista numa carreira de dezessete anos. Como você o entende dentro dessa sua significante discografia?
OG: Sim, Amor e Liberdade é o sétimo autoral, e eu vejo nele muitas semelhanças com meu primeiro CD. Cada trabalho autoral carrega a essência do novo, como se eu estivesse me apresentando pela primeira vez. Ao mesmo tempo ele me deixa tranquila, pois é a continuidade, a afirmação deste momento tão importante de minha carreira.
GM: Como foi o processo de composição do álbum? Quais foram as influências e qual foi a direção sonora do disco?
OG: Quando começo um novo trabalho meu corpo e mente entram num estado de criação, e tudo ocorre muito rápido. Acordo com idéias novas, muitas vezes músicas inteiras, letra e melodia, de uma vez. Amor e Liberdade trouxe um diferencial: algumas canções eu fiz a partir de um tema sugerido por amigos. As influências de minha criação sempre são o momento, o ar que estou respirando, as vibrações que recebo de outras pessoas, o mundo emocional à minha volta. Quando componho falo sobre a natureza do ser, os relacionamentos, questões existenciais, enfim...o mundo interior. Na direção musical procurei refletir isso, buscando a sonoridade orgânica como carro chefe. Timbres puros, acústicos, poucos instrumentos, e espaço para a própria música respirar.
GM: Como uma artista independente, como você vê o futuro do mercado musical no mundo e no Brasil? Mais especificamente falando, você acredita que a mídia física ainda é importante para o artista?
OG: Eu não penso no futuro distante das coisas, principalmente da música, pois acredito que ela seja atemporal. O mercado musical, ao contrário, é algo que precisa se renovar, enquanto a música faz isso naturalmente. Ela não precisa de nada para continuar existindo, e acompanhando o desenvolvimento da humanidade. É antes de tudo uma linguagem única, uma arte fluida, abstrata e sensorial. É maior do que qualquer músico, porque é etérea. Já o mercado está num momento de transformação intensa, aonde vejo claramente que os fenômenos culturais ou midiáticos chamados "musicais" estão cada vez mais se distanciando da música. Não vejo nada de mal nisso, o músico faz música. A mídia cria celebridades. O músico busca a arte. A celebridade busca a fama. O público busca o que achar legal para cada momento. Acho que existe espaço e público suficiente para toda a diversidade possível.
Quanto à mídia física não acredito que esteja obsoleta. Ouvir música em mp3 é prático, livre, simples e veio para ficar. Mas é mais uma maneira, entre muitas outras. O CD não vai acabar, assim como o vinil não acabou e até a fita cassete está voltando. O importante é a praticidade e o prazer que cada audição pode proporcionar.
GM: “Amor e Liberdade” tem 14 canções, 8 são composições suas e 5 em parceria. Com um mercado e um público que cada vez mais está acostumado a consumir uma única música de um artista, e estes, em sua maioria, por sua vez estão cada vez mais econômicos ao lançaram um CD com 10 ou 12 faixas no máximo, como você vê isso e por que no seu CD você aposta num número de faixas acima da média?
OG: Acredito que cada CD (álbum) conte uma história. Se a história for longa, mais músicas, senão... menos, rsrs. O processo criativo do Amor e Liberdade foi muito intenso, e no final da primeira etapa (composição) eu tinha 13 músicas. Daí recebi a canção "Lua no céu de Janeiro", um presente de Luiz Carlos Sá (Sá e Guarabira) e de Dery Nascimento. Ela conversou com o resto do repertório e não tive dúvidas em incluir. Não me preocupo com o Cd ter mais faixas do que a média, pois o modo de ouvir música hoje em dia é predominantemente playlist. A venda digital também é assim, faixa a faixa.
GM: A Quantidade de músicos que participam de “Amor e Liberdade” é bem grande e representativa, e isso transparece na qualidade e nas performances das músicas quando se escuta o CD. Como foi o critério que você usou para chamar cada um dos músicos?
OG: Os músicos que gravaram Amor e Liberdade fazem parte da minha história musical. Sou realmente fã de cada um deles. O talento, a sensibilidade e a afinidade com a música foi e será sempre o critério que acredito servir para gravações em estúdio. Para os instrumentos de base (bateria, percussão e baixo), optei pelos mesmos músicos, o que garantiu a identidade musical, independente dos estilos e climas diferentes das músicas. Já as participações especiais foram variadas, então escolhi convidar instrumentistas solistas, para que também tivessem espaço para criar em apenas uma ou duas canções.
Então na bateria o Fernando Garcia gravou a maioria das canções, e o Bruno Balan gravou três. Todos os baixos são do André Sangiovanni, a maioria ele gravou baixo acústico e em algumas pedi o elétrico. Eu gravei a maior parte dos pianos, e o Michel Limma gravou teclados em duas músicas. Fábio Dregs gravou algumas guitarras, Raquel Martins e Zé Marmou tbn gravaram guitarra em uma faixa cada um. Hugo Hori gravou flautas. Cada um desses músicos que citei fazem parte de minha trajetória e discografia de maneira significativa. Diego Sales (gaita) e Arismar do Espírito Santo (guitarra) eu tive o prazer de convidar e a honra de terem aceitado meu convite.
GM: Desde o seu primeiro CD, um dos destaques do seu trabalho são as letras das canções. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso e quais são suas influências literárias?
OG: As letras são a alma das canções. Adoro escrever e para mim o processo "letra e música" é bem coeso. As letras e melodias já nascem juntas, no momento da composição. E foi assim em 8 canções deste novo trabalho.
Também adoro receber uma letra e musicar! Paulo Preto, meu parceiro desde o primeiro CD escreveu "Recomeçar" e "Arte além da tua janela" (esta especialmente para Amor e Liberdade). "Sem inimigos" é um poema escrito pela minha mãe. "No som" é uma letra do compositor Zé Luiz Marmou, parceiro de outros trabalhos também. "No silêncio da canção" foi a primeira letra do compositor Dery Nascimento que eu musiquei.
Eu realmente adoro ler, e leio de tudo. Prosa, ficção, poesia, teatro, filosofia, contos. Fernando Pessoa, Gabriel Garcia Marques, Mia Couto, Guimarães Rosa, Gil Vicente, etc.
GM: Quais são seus planos para 2018 e além?
OG: Comecei 2018 com um show solo de Amor e Liberdade, com algumas canções de meus outros CDs autorais também. Alguns projetos em parceria com outros compositores estão em andamento, e provavelmente se transformarão em single e quem sabe um EP. E continuar a ser independente, dependendo muito dos ouvidos alheios, e respirando música. Respeitando acima de tudo essa arte maravilhosa a qual me dedico, e tendo a certeza de que sou apenas um pequeno instrumento dela... Viva a Música!