Dhenni Santos - CD Pedra de Rio - um tributo a Luhli e Lucina (Mills Records)
Dia 07/08 - Quinta-feira - às 19h30 - Teatro Rival Petrobras
“Pedra de rio” (Mills Records) já merece aplausos pelo abrangente tributo que faz a Luhli e Lucina, num delicioso mergulho nas canções que as duas vêm produzindo há quatro décadas. Mas, nesse precioso disco o cantor e compositor Dhenni Santos vai além da justa homenagem, conseguindo uma sonoridade contemporânea e atemporal para uma obra de forte identidade na sua multiplicidade. É música brasileira, estradeira, cosmopolita, transitando por samba, guarânia, blues, flamenco, pop, ecos da África, rock e o que mais entrar na dança. Aqui reunida, documenta o espírito de uma época que continua mais atual do que nunca, quando os jovens também tentavam novas maneiras de mudar o mundo, além das fórmulas convencionais, seja nas artes, na política ou no comportamento.
Inicialmente juntas na então dupla Luli e Lucina, que estreou no VII Festival Internacional da Canção, em 1972, elas lançaram quatro álbuns entre 1979 e 1992, A partir de 1998, seguiram carreiras individuais, cantando, compondo, estreitando novas parcerias e lançando discos solo. Além de apresentadas em seus shows e álbuns, algumas dessas canções foram gravadas por uma constelação da música brasileira, numa lista que inclui Secos & Molhados, Ney Matogrosso, Nana Caymmi, Joyce, Wanderléa, Zélia Duncan, Tetê Espíndola, Frenéticas…
Nas 20 que selecionou, tiradas de um baú de mais de 800, Dhenni faz um passeio por todos esses períodos. Regrava clássicos lançados pelas autoras ou por alguns dos artistas citados acima; registra músicas que eram sucesso nos shows da dupla mas estavam inéditas em disco até então; e ainda é o parceiro em duas composições novas. Estas revelam, entre outras coisas, o quanto Luhli e Lucina continuam afiadas e como o cantor se entrosou artisticamente com as amigas. “Nunca” é uma da safra que Dhenni compôs a partir de um livro de poesia de Luhli. Enquanto “Samba da risada” foi escrita com a dupla, em meados de 2012, e serviu de inspiração para o disco que agora ouvimos.
Antes de mais detalhes sobre as composições, vale destacar a concepção e a execução de “Pedra de rio”. Dhenni Santos assina a produção e a direção musical, dividindo com Luhli e Lucina a pesquisa de repertório; enquanto a produção musical coube a Daniel Drummond (violões e guitarras) e Felipe Radicetti (programações eletrônicas), músicos que também se alternaram nos arranjos.
Tão variado quanto o leque rítmico é o acompanhamento, que, dependendo da necessidade ou da intenção, utiliza instrumental acústico, elétrico-eletrônico e naipes de cordas e de metais. Além da já mencionada identidade da dupla de compositoras, a voz grave e aveludada de Dhenni Santos, usada com técnica precisa, é a liga fundamental para essa equação.
Natural de Bom Jesus do Itabapoana, no interior do Estado do Rio, ele é cantor, violonista, professor de canto, arranjador e compositor. Antes de “Pedra de rio”, usando a grafia original de seu primeiro nome, Denilson Santos estreou em disco em 2009 com “Do Mundo” (também pela Mills Records), no qual assinava quatro canções (duas em parceria com Luhli), em meio a duas de novos compositores ou clássicos de Gonzaguinha, Chico Buarque e Milton Nascimento. Serviu como cartão de visitas de um artista que, cinco anos depois, mostra ter avançando bastante.
Em “Pedra de rio”, ele imprime sua marca, encontra soluções originais, longe dos covers ou da reverência excessiva. Quatro músicas, por exemplo, foram lançadas por Ney Matogrosso, mas, além da voz de timbre bem diferente, Dhenni trilha caminhos novos nas versões de “Coração aprisionado”, “Bugre”, “Pedra de rio” e “Chance de Aladim”. Para abrir e fechar o álbum, foram escolhidas duas canções emblemáticas. “Flor lilás” (Luhli) é a da estreia no tal festival competitivo de 1972, do qual elas saíram com o terceiro lugar e o contrato para um compacto duplo, lançado pela Som Livre, com arranjo de Zé Rodrix. Enquanto “Ao menos” trata-se da última parceria antes do fim da dupla, em 1998, mas só em 2007 foi gravada, por Lucina no disco “A música em mim”.
O material inédito em disco inclui tanto músicas recentes, quanto aquelas que foram sucessos nos shows da dupla. Entre as primeiras, além das duas parcerias com Dhenni, estão “Cometa”, uma das muitas que Lucina fez com Zélia Duncan, e “Escultura”, escrita por Luhli em 2011. Entre as que ficaram guardadas na memória dos fãs, “Viola de prata” é delas com o paraense Joãozinho Gomes e foi finalmente gravada por Dhenni com participação de Luhli e Lucina, na primeira reunião da dupla após uma década; “Barra/Leblon” era presença obrigatória no repertório delas nos anos 1990; assim como “Tudo de nada”, que, após rodar em shows dos anos 1980, chegou a ser gravada para um disco nunca editado.
Independentemente do ineditismo ou não de cada faixa, “Pedra de rio” é um disco de conceito exemplar, bem resolvido no estúdio, com o frescor de águas e pedras que rolam. Que venham agora os shows.
Antônio Carlos Miguel é jornalista especializado em música desde os anos 1970, ACM passou pelos principais jornais e revistas brasileiros, é membro votante do Grammy Latino, do júri e do conselho do Prêmio da Música Brasileira e mantém um blog sobre música no G1, site da Rede Globo.
Serviço
SHOW DE LANÇAMENTO NO RIO DE JANEIRO:
DHENNI SANTOS – LANÇANDO CD PEDRA DE RIO
Dia - 07 de Agosto - Quinta-feira - às 19h30
Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33/37 – Cinelândia. Telefone –21- 2240.4469)
Preço:R$ 60,00 (Inteira), R$ 40,00 (Promoção para os 200 primeiros pagantes)
R$ 30,00 (Estudante / idoso / professor da rede municipal)
Classificação: 16 anos
Capacidade: 458 lugares