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OPINIÃO: NOVA EMBALAGEM É O TIRO DE MISERICÓRDIA PARA OS COLECIONADORES


Postado em 16/06/2017

OPINIÃO: NOVA EMBALAGEM É O TIRO DE MISERICÓRDIA PARA OS COLECIONADORES title=

Por Anderson Nascimento

Mesmo para aqueles que não acompanham com frequência as notícias sobre o mercado fonográfico, não é novidade que o consumo de mídias físicas continua em queda livre, haja vista o desaparecimento há tempos das lojas físicas dedicadas exclusivamente à venda de discos, bem como a redução significativa dos espaços dedicados a música nas lojas de departamentos.

A questão é que às vezes parece haver um movimento para acelerar o processo de morte da mídia física, algo que, seguramente, não vai ocorrer. Não tenho experiência em questões internas da indústria da música, mas enquanto consumidor eu testemunhei as saídas de cena do compacto de 7 polegadas, do LP e do Cassete do mercado regular de discos e, em alguns casos, me pareceu rolar um complô para o sumiço de algumas destas mídias, através de questões que vão desde o cancelamento da fabricação de aparelhos para tocar tais mídias, a significativa perda da qualidade sonora, até o aumento abusivo do preço final das mesmas.

É claro que, graças aos fiéis colecionadores, bem como os discófilos que cresceram consumindo música em mídias físicas, ainda existe mercado para a venda de álbuns nos formatos CD e LP. Esse mercado, no entanto, deixou de ser popular faz tempo, abrindo caminho para a venda segmentada para os discófilos já citados. Assim, temos os boxes de coleções, os discos de raridades fonográficas, as versões remasterizadas e de aniversário, e até as reedições em LP de discos clássicos, todos, é claro, em tiragem limitadíssima.

Algo que vem incomodando atualmente é o descaso com os consumidores que continuam comprando discos. Salvo exceções, alguns desses discos têm sido embalados em invólucros cada vez mais pobres, frágeis e insossos. Vimos recentemente um modelo de embalagem nas prateleiras de lojas de departamentos chamada de “epack”, justificada como “a embalagem inteligente”, que consome 80% menos plástico que o convencional.

Este tipo de embalagem parece ser o tiro de misericórdia para os colecionadores que agonizam em busca de produtos e espaço, das velhas Mecas, onde se gastavam horas apreciando álbuns em diversas mídias, que parecem hoje, pelo menos em termos de Brasil, apenas um sonho tão distante de nosso tempo.

O caso mais recente nesse tipo de embalagem é o novo EP do Rei Roberto Carlos, que traz quatro canções do artista. O fato de ser um trabalho do Roberto, por si só já justifica a versão física do trabalho dadas as vendagens fiéis, o que é endossado ainda pelo fato de conter duas canções inéditas, algo infelizmente cada vez mais raro na carreira do artista.

Chega ser estranho entender que Roberto tenha aceitado lançar um trabalho neste tipo de embalagem, uma vez que a experiência com EPs não seja novidade na carreira do Rei, inclusive na recente. Logo ele, que sempre primou pela qualidade; que em determinado momento de sua carreira passou a gravar os seus discos fora do país em busca de melhores resultados sonoros. Cabe ainda ressaltar que Roberto, a partir de 1975 passou a ter todos os seus LPs lançados na luxuosa capa gatefold, aquela que abre como se fosse um livro.

Esse tipo de embalagem utilizada no novo trabalho do Roberto acaba associando o produto a algo descartável, o que é pavoroso para os colecionadores, tanto que acabou gerando o curioso fato de levar alguns colecionadores a comprarem duas unidades, uma para de fato abrir, o que inevitavelmente estraga a embalagem do produto, e outra para guardar intacto. Se a estratégia inicial desse tipo de embalagem era essa, vimos que a gravadora acertou em cheio. Mas, brincadeiras à parte, é lamentável que o consumidor de música tenha que engolir tal descaso, pelo honroso fato de ser colecionador do artista.

Tudo o que o comprador de música física não quer é que a sua compra esteja associada a impressão de estar adquirindo algo descartável como os pen-drives de música, que até podem ser úteis em determinadas situações, embora não representem qualquer estima para o proprietário, servindo apenas para ouvir música en passant. Bom, se é para ser assim, é melhor que o lançamento seja apenas digital mesmo, como infelizmente é o que estamos vendo por aí.

Fica então o protesto de quem se sentiu minimizado ao ter que adquirir para a sua coleção um produto tão mal acondicionado. Fica também o apelo às gravadoras para que não extingam de seus planos estratégicos aqueles que se orgulham de sua coleção de discos, aqueles que apreciam música em formato físico, que vocês não se esqueçam de nós ao definirem o que vão colocar nas poucas prateleiras de mercado que ainda existem.




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