Depois de quatorze anos esmerilhando as seis cordas de sua guitarra (e compondo grande parte das músicas) junto à banda Cachorro Grande, Marcelo Gros lanças seu primeiro álbum solo, “Use o Assento Para Flutuar”. Gravado com a participação dos músicos Fernando Papassoni (Universo Elegante) no baixo e Clayton Martin (Cidadão Instigado) na bateria, no formato “Power Trio”, com os três músicos tocando “ao vivo” no estúdio, sem metrônomo e sem muitos overdubs.

Totalmente composto por Marcelo Gross, “Use o Assento Para Flutuar”, apresenta uma sonoridade tipicamente setentista, com alguns momentos bem psicodélicos, e apesar de ser um “guitar hero”, Marcelo entrega um CD em que a canção prevalece acima de tudo, os instrumentos tocam em função de criar climas, texturas e andamentos que interagem a as melodias e letras de forma tão natural e concisa , coisa difícil de se ver e ouvir atualmente.

Falando em letras, Marcelo Gross comprova com esse CD, que é o grande letrista dentro da Cachorro Grande, todas as letras são bem construídas e o texto vai além do usual, a poética é carregada de uma mensagem sincera, que vai do desabafo, passando por passagens bem oníricas, existencialismo e constatações dialéticas de como se vive hoje nos grandes centros urbanos.

Mesmo não sendo o foco principal do CD, a guitarrra de Marcelo Gross, está bem em evidência no álbum com sua “pegada” característica, Marcelo espalha ao longo de todas as faixas riffs, links e arpejos criativos que mostram as influências dos grandes mestres da guitarra como Keith Richards, Pete Townshend, Paul Weller, Jimmy Page, em seu trabalho. Nas partes acústicas o violão e o dobro também se destacam com timbres fortes e cheios de artimanhas.

Os grandes destaques do CD são as faixas “Trilhos” que abre o CD, e que poderia ser muito bem confundida com um “out take” esquecido dos Rolling Stones da época do “Exile On Main Street”, e mesmo assim ainda tem “a cara” do Gross. “A Hora de Levantar” tem uma levada bem bluesy e um órgão (tocado pelo tecladista da Cachorro Grande, Pedro Pelotas) fazendo o acompanhamento num clima bem final dos 60’s, uma ótima faixa. “O Buraco da Fresta” e “Disfarça” são instrumentalmente fortes com refrãos pegajosos e geniais.

“A Hora de Rolar” é a mais psicodélica do todo o álbum, um híbrido de Pink Floyd na fase inicial com os Beatles em Sgt Peppers, lembra muito a sonoridade da banda paulistana Violeta de Outono em seus dois primeiros álbuns. Ao escutar essa música, faça um bem a si mesmo e acenda um incenso, entre no clima e flutue. “Movimento Contínuo” é uma faixa que se fosse mandada ao passado, mais precisamente a década de 1970, seria facilmente confundida com Mutantes e com o trabalho solo Arnaldo Baptista. Muito boa essa faixa e como já dito antes, além de tudo, tem a cara do Gross.

Em entrevistas falando sobre o CD, Marcelo Gross diz que esse é “Um disco de Rock honesto, sem frescuras, direto ao ponto” e as faixas “Hoje Não Vai Dar” e “ Nessa Trip” são dois exemplos disso, Rock dos bons. “Algo Real” é uma baladinha ao violão, bem ao estilo “contar uma estória” de Paul McCartney fase 1968 (Rishikesh, India,White Album), nos prende em seus curtos 2 minutos e 13 segundos e nos deixa querendo acompanhar mais a estória de Sara e Carmen.

“Use o Assento Para Flutuar” é um álbum que cresce a cada audição, um ótimo trabalho que inaugura a carreira solo de Marcelo, que paralelamente continua com o seu trabalho com a Cachorro Grande e agora nos deixa uma alternativa a mais de poder acompanhar e curtir suas canções e o som de sua guitarra. Altamente recomendável, deve estar presente na estante (bem ao lado dos discos dos Mutantes, Beatles e Pink Floyd) de todos que goste de música e Rock and Roll.