Resenha do Cd Walls And Bridges / John Lennon

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WALLS AND BRIDGES
JOHN LENNON
1974

EMI MUSIC
Por Valdir Junior

O segundo melhor disco gravado em vida por John Lennon, composto no período em que depois ficou conhecido como “The Lost Weekend” (fim de semana perdido). Em 1973 John estava passando por um período de crise existencial, criativa e além de tudo sendo perseguido e vigiado pelo governo americano do então presidente Richard Nixon, separado de Yoko Ono, John mudou-se para Los Angeles, onde se afundou em um mundo cheio de bebidas drogas farras e escândalos.

No começo tentando ser produtivo, mas sem nenhuma inspiração para compor nada, John começa a trabalhar junto ao produtor Phil Spector em álbum em que revisitaria velhos Rock and Rolls que tanto o influenciara quando adolescente, mas devido o comportamento errático de John como o do temperamental e excêntrico Spector as sessões se encerram sem o álbum estar pronto (mais tarde o disco seria terminado e lançado em 1975 com o titulo “Rock N Roll”).

Tentando sair do fundo desse poço que ele mesmo cavou, John consegue arranjar tempo e disposição para produzir o álbum “Pussy Cats” de Harry Nilson e logo em seguida volta para Nova Iorque no começo de 1974 e dá início as gravações de “Walls and Bridges” tendo como banda base o velho amigo Klaus Voormann (Baixo) e os músicos Jim Keltner (Bateria), Jesse Ed Davis(Guitarra), Eddie Mottau (Violão) e Nicky Hopkins (Piano), enquanto John tocava guitarra, violão, piano, percussão, usando um monte de pseudônimos (Dr.Winston, O'Ghurkin, Dwarf McDougal, Kaptain Kundalini entre outros).

Todas as músicas do disco refletem esse período baixo astral e confuso vivido por John, mas as músicas não caem na pieguice e nem em autopiedade, pelo contrario, mostram as amarguras, medos, desejos, angústias de um homem crescendo, amadurecendo e aprendendo a viver, o que torna “Walls and Bridges” um álbum sincero e de valor artístico único.
Do início com “Going Down On Love” onde John canta a falta de esperança de que algo de bom lhe aconteça se ele não se entregar, passando pela inebriante e eufórica “Whatever Gets You Thru The Night” que tem a participação de Elton John nos vocais e piano, fazendo um contraponto interessante do estado de ânimo de John de uma faixa a outra, como que lembrando os altos e baixos dessas noites e dias perdidos.

O Som presente em algumas faixas de “Walls and Bridges” é de uma atmosfera de quase Jazz and Blues típica de Nova Iorque e faixas como “Old Dirt Road” e “Bless You” são bons exemplos disso, aliás, “Bless You” foi considerada mais tarde por John uma de suas melhores composições. No entanto o Rock está bem presente também em faixas vibrantes e desafiadoras como “What You Got”, onde John é taxativo e desabafa no verso “Você não sabe o que você tem até perde-la” e na sarcástica alfinetada em Allan Klein em “Surprise, Surprise (Sweet Bird Of Paradox)”.

Outra coisa que fica bem evidente nesse álbum é a quantidade de guitarras e violões presentes em um disco de John não vista desde o final dos Beatles. Uma faixa como a instrumental “Beef Jerky” é um bom exemplo, nascida de uma Jam session no estúdio, com uma forte influência de guitarristas como Duane Eddy e Hank Marvim (Shadows) mostra todo o prazer que John tinha por esse instrumento apesar de não ser nenhum “guitar hero” e nos presenteia com vários riffs, arpejos, timbres e pegadas eletrizantes.

A onírica “#9 Dream” foi um grande sucesso do disco e a esquisita frase: “Ah! böwakawa poussé, poussé” que é cantada várias vezes na musica, foi sonhada por John e só Freud ou Jung após uma sessão de terapia com John poderia contar o seu significado, mas a letra em si traz um John Lennon divagante procurando sentido em meio a situações confusas e sem sentido.

“Steel And Glass” e “Scared” são duas grandes canções cheias de pavor, rancor e desespero, que remetem diretamente ao período “primal” de John do álbum “John Lennon/Plastic Ono Band”. Fechando temos a reflexiva, melancólica e solitária “Nobody Loves You (When You're Down And Out)” que John disse ter feito para Frank Sinatra, mas que na sua voz a música ficou tão pessoal e única que dificilmente podemos imaginá-la sendo cantada pelo “A Voz (The Voice)”.

Em meados de 1974, John estava tão produtivo e confiante que poderia voltar com Yoko, que trabalhou como nunca, gravado muito material para as sessões de “Walls and Bridges”, ajudando Ringo Starr a gravar seu disco “Goodnight Vienna”, e finalmente terminando sozinho o disco inacabado que começou em 1973 com Phil Spector.

Apesar de todos os problemas que John viveu nos 18 meses que durou seu afastamento de Yoko, e que termina na espetacular e emotiva apresentação surpresa do John no show de Elton John no Madison Square Gardem em 28/11/74 onde ele tocou e cantou as 3 últimas musicas ao vivo de sua carreira (“Whatever Gets You Thru The Night”, “Lucy In The Sky With Diamonds” e “I Saw Her Standing There”), 1974 foi o ano em que John enfrentou e superou todos seus demônios (internos e externos) de frente e “Walls and Bridges” (Muros e Pontes) é o resultado direto disso, um disco que deve ser escutado do início ao fim sempre.

Resenha Publicada em 30/04/2013





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