A carreira de Caetano Veloso é marcada por caminhos marginais que o permitem adentrar universos distintos, evidenciando enorme mobilidade estética e conceitual. Assim como em A Foreign Sound e Fina Estampa, dedicados, respectivamente, à releitura de canções anglo-americanas e hispano-americanas, Muitos Carnavais apresenta marchas carnavalescas aliadas à estética do trio-elétrico. O disco se diferencia, entretanto, pelo caráter das composições: dez de suas doze faixas são autorais. Dessa forma, Muitos Carnavais constitui uma aventura não apenas interpretativa, mas também composicional.

A despeito da semelhança musical e poética no disco, as canções “Chuva, Suor e Cerveja” e “A Filha da Chiquita Bacana” sintetizam, particularmente, a proposta estética de Muitos Carnavais. Para além do trio-elétrico, a marchinha “Qual é, Baiana?” (parceria com Moacyr Albuquerque) mostra o outro lado do disco, mais intimista, embora igualmente eufórico.

Como as gravações foram realizadas em momentos distintos, a textura dos arranjos não é muito consistente. De toda forma, predomina em Muitos Carvanais o emprego da guitarra, por vezes acompanhada de um naipe de metais – “Muitos Carnavais”, “Deus e o Diabo”. Por outro lado, faixas como “Hora da Razão” (Batatinha e J. Luna) e “Guarde Seu Conselho” (Alcebíades Nogueira, Luiz de França) apresentam a costumeira roupagem joão-gilbertiana – voz, violão, e percussão – que Caetano Veloso tanto aprecia quanto domina.

A julgar pela proposta, a de Muitos Carnavais é, no mínimo, corajosa. Sua escuta afasta qualquer receio de oportunismo comercial que o gênero pode suscitar: ao contrário, o disco apresenta boas canções e ótimas execuções por Veloso e sua banda. Todos parecem muito à vontade em meio ao universo carnavalesco, e quem ganha com isso é o ouvinte, que pode experimentar um pouco da tradicional festa baiana mesmo longe de Salvador.