Por Gabriel Santos
Opiniões e impressões sobre a cultura jamaicana quando emitidas com respeito serão sempre bem vindas. O álbum Catch Fire Bob Marley and The Wailers (1973) mostra-se como uma peça de fundamental importância para o movimento musical/cultural existente na Jamaica, (vale ressaltar que a Jamaica teve sua independência em 1962) e depois viria a ganhar o mundo.
Peter Tosh, Bob Marley e Bunny Wailer, se conheceram em Trenchtown, uma favela ao Sul de Kingston, Jamaica. Esses jovens jamaicanos tinham como um dos objetivos serem as vozes do seu povo e militar pelos seus direitos. Eles sabiam quais eram esses direitos, como o próprio MARLEY dizia. Era necessário que essa mensagem saísse da ilha e ganhasse o mundo. A forma encontrada para isso foi a música. Para que os Wailers atingissem esse objetivo, foi necessário ir para Londres, caminho trilhado por muitos jamaicanos.
Chris BlackWell (produtor do disco) já sabia do perfil da banda, com o objetivo muito bem estabelecido, os Wailers tinham a fama de um grupo de difícil trato, pois tinham a postura firme para preservar a sua cultura, não aceitavam ser infiéis essa proposta, sendo assim ele investiu 4.000 Libras no disco, quantia essa que permitiu que os Wailers voltassem para a ilha, para entrar em estúdio e fazer uma gravação em tempo recorde. Bunny Wailer dizia que o disco não era uma novidade para eles, eram apenas os Wailers entrando no estúdio e tocando do jeito deles. Quando o álbum ficou pronto (na versão jamaicana), o próprio Bob foi a Londres entregar a fita.
Muito se questionou sobre o quanto esse disco era exótico e se ele conseguiria agradar aos ouvidos dos norteamericanos e do público de rock de maneira geral. O trabalho dos produtores ingleses foi resumidamente o de traduzir a música do grupo para os ouvidos anglo saxões. Acrescentando elementos conhecidos do público a ser atingindo como: solos de guitarra, wah-wah, slides e muito overdub. Entretanto, todos esses elementos se somariam aos elementos originais do Reggae music, sem descaracterizá-lo e por isso foi aceito pelo grupo, considerando que essa mescla de estilos e elementos musicais se fazia necessária no momento, devido à necessidade de prospecção internacional. Feito isso o álbum veio sendo construído com os propósitos estabelecidos.
Discos clássicos normalmente trazem consigo uma capa à altura do seu conteúdo, com o Catch a fire não foi diferente, a primeira capa foi uma foto tirada de Marley em um momento de profunda meditação, acompanhado pelo seu spliff. A capa veio a ser censurada. É possível imaginar alguns possíveis motivos para coibir a veiculação do disco com essa capa. Catch a fire, so you can get burn, now, veio então a segunda capa, na qual, um isqueiro está em destaque e para retirar o disco era necessário ascender a chama que está guardando o LP. Mesmo com toda a repressão, a primeira capa é infinitamente mais difundida do que a segunda. Mais uma prova da resistência e da força desse movimento.
Ainda em 1973, o grupo realizou alguns shows marcantes para mostrar aos londrinos a música e a estética jamaicana, até então vista como exótica. Todavia, essa música veio com mensagens endereçadas aos colonizadores e isso pode ser observado claramente na música Slave driver. O grupo usou essa música para abrir um desses shows e ao final da canção, Bob se dirige à plateia dizendo: veremos se vocês irão entender o recado!*.
Por essas e outras que esse álbum foi no mínimo um pé na porta! Em seu primeiro ano o disco vendeu apenas 14 mil cópias, porém com o passar dos anos ele veio a vender milhares. Este é um disco divisor de águas na história da música Reggae e é carregado de características fazem dele um clássico!